São Paulo, segunda-feira, 22 de julho de 1996
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Rappers do bem 'matam' os gangstas

SÉRGIO MARTINS
ESPECIAL PARA A FOLHA

A trilogia armas, drogas e violência, com a qual a turma do gangsta rap construiu seu império, está com seus dias contados nos Estados Unidos. Os motivos para tal são variados: rappers que resolvem diferenças na base da bala, gravadoras (no caso a Warner) que dispensaram seu cast gangsta e, mais do que nunca a escalada do rap do bem, com mensagens positivas e anti-violência.
O maior exemplo desse novo direcionamento do rap é o trio Fugees. Formado por dois descendentes de haitianos -Pras e Wycleff- e pela cantora Lauryn Hill -uma rapper com dotes vocais fora do comum-, o grupo tomou de assalto as paradas com o álbum "The Score".
O disco ficou várias semanas em primeiro lugar na parada americana. Nele, o Fugees faz uso de ritmos variados, como soul music, reggae e rhythm'n'blues para desembestar uma pregação contra algumas idiossincrasias americanas -como racismo e preconceito contra os imigrantes.
"The Score" ainda reserva boas surpresas. A regravação de "No Woman, No Cry", clássico de Bob Marley, tem sua letra vertida para a realidade americana. A canção original falava de Kingston e o dia-a-dia dos guetos jamaicanos. O Fugees situa a música em Nova York e Nova Jersey, quartéis-generais da banda. Outro tiro certo foi a cover de "Killing Me Softly", da cantora Roberta Flack.
O rap do bem ainda descolou uma nova modalidade de rapper, o gangsta arrependido. O ícone dessa turma é Coolio, rapaz de cabelos em chifre e língua afiada, que chega ao Brasil através do álbum "Gangsta's Paradise".
Coolio não se considera um gangsta -"as pessoas é que insistem em me classificar assim", escapa-, mas reservou alguns mea-culpa. Em "For My Sistas", uma ode às mulheres, ele chega a se desculpar por um dia chamá-las de "bitches".
Reação gangsta
Os gangstas, à maneira deles, estão reagindo. Os rappers 2Pac Shakur, Snoop Doggy Dogg e Dr. Dre fundaram uma gravadora própria, a Death Row Records.
O som sofreu modificações: a ladainha agressiva dos caras ganha reforço com as harmonias vocais dos grupos de soul americanos. 2Pac, por exemplo, escalou as paradas ao lado do Jodeci. Porém, a filosofia agressiva dos rapazes continua a mesma: Dre pulou fora da gravadora devido a divergências com um dos sócios.
A má fase do gangsta rap pode ser passageira. Talvez dure até Snoop Doggy Dogg lance um novo álbum. Mas que está sendo mais prazeroso ouvir rap sem a agressividade e tiros, isto lá é verdade.

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