São Paulo, segunda-feira, 22 de julho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brasil também tem turma do bem

ESPECIAL PARA A FOLHA

O Brasil também tem seus ícones do rap do bem. Se os Racionais MC's seduzem com letras "conscientes", mas pecam pela postura radical, existe uma rapaziada pronta para mandar boas mensagens em forma de rap.
Um bom exemplo é o Rap Sensation. O grupo surgiu na zona sul de São Paulo há oito anos e professa um certo positivismo. "Tirando Uma Onda", novo álbum do Rap Sensation, fala de criança abandonada, desce a lenha nas drogas e até abusa de temas religiosos.
"Nossa música não é direcionada à malandragem", diz Poncio, DJ e rapper do grupo. "O som da gente é apreciado até pelos mais religiosos."
Para dar vida às letras do Rap Sensation, vale tudo: samples de Cazuza, Billy Paul e George Michael. "Não queremos limitar nosso som. Já abrimos shows para Titãs, P.U.S. Há vários roqueiros e skatistas entre nossos fãs."
Poncio, que tem 2º grau completo e lê livros como "A Fórmula de Fazer Sucesso", aponta como companheiros de filosofia os grupos R.P.W. e Filosofia de Rua. Revela que o Rap Sensation também faz filantropia. Uma vez por mês, o grupo dá show de graça para entidades beneficentes. Há duas semanas, se apresentaram em uma igreja na zona leste de São Paulo.
O Sampa Crew é um dos pioneiros da turma do bem. Desde que surgiu, há dez anos, liderado pelo rapper J.C. Sampa, já fez rap até com temática ecológica. Era "Não Mate a Mata", canção embalada pela batida do reggae.
"Sempre busquei uma forma mais otimista de rap", diz J.C. Ironicamente, ele ouve gangstas. "Não me importo com o que falam porque não entendo inglês."
Se fosse punk, J.C. seria straight edge, aqueles que optaram por um estilo de vida mais -digamos assim- careta. O rapper não bebe nem fuma. "Não sei o gosto da maconha e do cigarro."
Bem aceito pelos rappers, J.C. acha que há um quê de pobreza no gangsta brasileiro. "A maioria vai na cola dos Racionais. Se não mudar a filosofia, não vai pra frente."
Quanto aos gangstas brasileiros -fora o funk carioca, com sua alusão às armas e traficantes do morro- temos Pivete. Ex-integrante do Pavilhão Nove, o rapper lançou o álbum "Ex-Detento". Pena que Pivete levou o personagem por demais a sério. Está preso por assalto a mão armada.

Texto Anterior: Rappers do bem 'matam' os gangstas
Próximo Texto: Sex Pistols fazem turnê milionária
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.