São Paulo, segunda-feira, 22 de julho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Geração" não explica a contracultura

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

"Geração em Transe - Memórias do Tempo do Tropicalismo" oferece um painel amplo dos anos brasileiros que se propõe a abranger -para quem não quiser mais que memórias impressionistas do país nos anos 60 e 70.
Luiz Carlos Maciel não empreende nenhum esforço em aprofundar razões, traços constitutivos ou conceitos dos movimentos tão importantes para a cultura nacional -cinema novo, tropicalismo e teatro Oficina.
Quem pouco conhecer de tropicalismo ou do cinema de Glauber Rocha, pouco terá conhecido ao final do livro. Some-se a isso o efeito mistificador -involuntário, talvez- que acabam tendo os relatos de Maciel.
A contracultura tupiniquim, por exemplo, é citada a torto e a direito, sem que nunca se explicite em que realmente ela consistiu. Vira mito uma decantada contracultura que não se serviu de sexo, drogas e loucuras como instrumentos libertários do baixo astral geral.
Por pura mistificação, Zé Celso, por exemplo, é classificado de essência da contracultura em pleno 1996 -quando não há mais contracultura e quando repete o mesmo modelo de contestação que vem praticando há anos.
E ele mistifica também Caetano Veloso, beatificando o artista como ser acima da crítica.
Não percebe que a eliminação da crítica -atividade a que Maciel muito se dedicou e em que fermentou seu talento- resulta na eliminação do senso crítico.
Não percebe que desenobrece Caetano, já que nem sua arte é capaz de sobreviver à perda do senso (auto) crítico. É, afinal, mais uma prova de que contracultura é coisa perdida no passado.
A realmente mítica década de 70 vai se reduzindo, assim, a uma época que entrou para a história porque sim. Para quem veio depois, continua envolta em névoa a razão pela qual muitos de seus participantes -os mais marginais, em especial- mantêm-se até hoje de pés fincados naquela década.
Salvo por saborosas memórias e pelo material fornecido nas reproduções de cartas de Caetano a Maciel e conversas entre ambos e Jorge Mautner, "Geração em Transe" mantém a cultura brasileira recente à espera de ser não criticada, mas analisada.
(PAS)

Texto Anterior: TRECHOS
Próximo Texto: TCA comemora três anos com show de Gal Costa
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.