São Paulo, segunda-feira, 22 de julho de 1996
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Mau humor aguarda horário eleitoral gratuito

ESTHER HAMBURGER

especial para a Folha Dia 2 de agosto terá início o horário político gratuito na televisão e no rádio. Serão praticamente dois meses de campanha eleitoral. Enquanto os candidatos aguardam ansiosamente a oportunidade para se dirigir diariamente aos eleitores, o mau humor dos telespectadores diante da perspectiva dessa interrupção cotidiana é inevitável.
O incômodo será ligeiramente menor nessa eleição já que a tradicional uma hora de programação eleitoral corrida foi dividida. Teremos dois horários de meia hora cada e mais meia hora em inserções de 30 e 60 segundos ao longo do dia. Mas se os partidos e o Tribunal Eleitoral não encontrarem uma fórmula adequada ao meio televisivo eliminando os resquícios de autoritarismo que a obrigatoriedade da transmissão simultânea em rede sugere, será difícil convencer os telespectadores da legitimidade do horário eleitoral.
A televisão vem se tornando cada vez mais estratégica nas campanhas. É quase como se ela detivesse o poder mágico de eliminar a distância crescente entre políticos e eleitores, estabelecendo pontes essenciais à conquista de mandatos. A fascinação e dependência dos políticos aparece na disputa acirrada por cada minuto disponível.
A concessão gratuita de tempo nos meios eletrônicos de comunicação aos partidos políticos é um recurso democrático que favorece uma certa igualdade de condições aos candidatos, independente de sua situação econômica. Por isso deve ser defendida. Candidatos de maior poder aquisitivo são favorecidos em países como os EUA, que não contam com um dispositivo como esse. Mas um esforço dos políticos em dominar a linguagem e o timing da TV não faria mal a ninguém. Meia hora de programação ininterrupta é muito tempo. Antes era hora de desligar a televisão. Agora, em tempos de TV a cabo e antenas parabólicas, basta mudar de canal.
Nada melhor do que encerrar a fase de grande evidência das investigações sobre o caso do assassinato de PC Farias no plano da ficção. Depois de apresentar um "Globo Repórter" especial sobre o assassinato do ex-tesoureiro de Collor, onde sugeria a hipótese do crime passional, a Rede Globo apresentou um "Você Decide" obviamente inspirado no assassinato do empresário, em que 133.679 telespectadores tiveram a oportunidade de manifestar seu veredicto contrário às versões da polícia. No documentário vence a paixão, na ficção vence a motivação política.

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