São Paulo, segunda-feira, 22 de julho de 1996
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OLP confisca casas em povoado da Cisjordânia

PATRICK COCKBURN
DO "THE INDEPENDENT", EM NABLUS

O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat, está enfrentando a oposição interna por um motivo normalmente atribuído aos israelenses: confisco de propriedades.
Na terça-feira passada, os habitantes do povoado pobre de Jneid se reuniram em duas barracas montadas no alto de uma colina para protestar contra o confisco de suas terras.
Arafat pretende construir seu quartel-general na Cisjordânia, num terreno de 80 hectares de que eles dizem ser donos há mil anos.
Hassan Hussein, o "mukhtar" (líder) de Jneid, um agrupamento de casas decrépitas nos arredores de Nablus, explica: "Temos certeza de que Iasser Arafat não sabia o que estava acontecendo. Mas essa terra é nossa, e precisamos dela".
A fúria dos moradores de Jneid reflete o crescente sentimento de desilusão com a Autoridade Nacional Palestina de Arafat em Nablus e outras cinco cidades da Cisjordânia, onde ela assumiu controle em dezembro passado.
"A principal reclamação feita por aqui é que os serviços de segurança da OLP fogem a qualquer controle ou prestação de contas. São um Estado dentro do Estado", diz Khalil Chikaki, do Centro de Pesquisas e Estudos Palestinos de Nablus.
"Na madrugada do sábado (retrasado), alguém veio e derramou querosene sobre nossas cadeiras, mesas e bandeiras", conta Billal, um professor de Jneid que não quis dar nome completo. "Depois abriu fogo com submetralhadoras contra as barracas, que estavam vazias no momento."
Apesar de tudo, 20 mulheres da aldeia ocupavam as barracas na terça-feira e esperavam que Arafat viesse ouvir suas queixas.
Para os moradores da vila, a equipe de segurança de Arafat o induziu a uma visão errada.
Segundo Chikaki, a característica básica do quase-Estado que Arafat governa em Gaza e partes da Cisjordânia é ser "autoritário, mas não totalitário". Hussam Qadr, do Conselho Legislativo e líder do campo de refugiados de Balata, próximo a Nablus, diz: "Os policiais agem como juízes e júri".
A capacidade de dar a Israel segurança contra ataques suicidas é o único trunfo de Arafat junto ao premiê israelense, Binyamin Netanyahu. Mas a desculpa não se aplica ao confisco das terras de povoados pobres como Jneid. Para Chikaki, o atrito entre a ANP e a população da Cisjordânia "resultará inevitavelmente em derramamento de sangue".

Tradução de Clara Allain

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