São Paulo, terça-feira, 23 de julho de 1996
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Tucanos denunciam uso político de recursos

Planalto nega ter sido informado sobre denúncias

LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Senadores do PSDB uniram-se a oposicionistas nas denúncias de favorecimento político em ano eleitoral, clientelismo e intermediação de verbas nas liberações de recursos do Orçamento da União.
O senador Carlos Wilson (PE), tesoureiro da Executiva Nacional do PSDB, retirou-se da Comissão Mista de Orçamento como forma de protesto. Diz que o presidente Fernando Henrique Cardoso sabe do uso político do orçamento.
"Não vou isentar o presidente, porque não é possível que ele não saiba disso. Ele não tem assessoria? Não tem coordenação política?"
Wilson afirma que os maiores abusos aconteceram no Ministério do Planejamento. Mas faz uma ressalva: "A Seplan não faria nada se não tivesse o aval da articulação política do governo".
O ministro Antonio Kandir (Planejamento) comunicou ao presidente da Comissão de Orçamento, deputado Sarney Filho (PFL-MA), que vai depor no dia 30 no plenário da comissão a respeito dos critérios na distribuição de verbas, que acabou favorecendo o PSDB.
O deputado pediu informações ao governo sobre esses critérios. Ele disse que, se não receber resposta até o dia 26, pedirá uma auditoria especial do TCU (Tribunal de Contas da União).
Outro tucano, o senador Jefferson Peres (AM), já colheu 20 assinaturas para criar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que apure o favorecimento político e a cobrança de comissão nas liberações de verbas.
Segundo Wilson, alguns ministros teriam afirmado que se sentem envergonhados pelo uso político das verbas públicas.
O deputado Sergio Miranda (PC do B-MG) já colheu 60 assinaturas para criar uma CPI do Orçamento na Câmara. São necessárias 171.
Como existem 19 pedidos de CPIs na Câmara, ele pretende articular com Peres a criação de uma CPI mista, composta por deputados e senadores. Ela seria criada automaticamente com assinaturas de 171 deputados e 27 senadores.
Outro lado
O porta-voz da Presidência, Sergio Amaral, disse que o governo considera "estranho" o fato de os senadores tucanos denunciarem uso político das verbas.
"O senador Carlos Wilson esteve há pouco tempo com o presidente e não mencionou nenhuma de suas denúncias. E ele (FHC) desconhece, ainda, a tentativa do senador Jefferson Peres de criar uma CPI para investigar o uso do Orçamento."
O porta-voz negou qualquer uso político dessas verbas. Amaral disse que o ministro Luiz Carlos Santos (Assuntos Políticos) não tem influência na liberação de verbas.
A Folha tentou ouvir Santos, que estava em São Paulo e não foi localizado. O Ministério do Planejamento informou que usou critérios técnicos para liberar as verbas.

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