São Paulo, terça-feira, 23 de julho de 1996 |
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O perde e ganha da abertura
LUÍS NASSIF Quem ganha e quem perde com a globalização da economia brasileira? Recentemente, um grande fabricante de produtos químicos reuniu em almoço presidentes de grandes companhias de diversos setores, para uma avaliação franca e informal sobre a conjuntura.A natureza das transformações é tão extraordinária que, para algum incauto, o resultado da conversa soaria o verdadeiro samba do crioulo doido. Setores extremamente satisfeitos, setores pesadamente punidos. (Como era conversa de gente grande, não tiveram assento os pequenos e médios empresários -estes, sim, quase unanimemente sacrificados pela conjuntura atual.) O encontro permitiu uma série de observações interessantes sobre o atual momento econômico. 1) Os setores mais duramente atingidos pela crise são o têxtil, o de autopeças e o agrícola. Empresários do setor têxtil sustentam que o custo total da mão-de-obra no Brasil (computados encargos) é similar ao europeu. E que empresas com eventuais vantagens competitivas são aquelas que resolveram correr o risco e se instalaram em áreas de incentivos fiscais. Um deles mostrou calças de bom acabamento, compradas de Taiwan a US$ 4 cada. 2) Na área têxtil, o tempo médio entre a compra da primeira matéria-prima e a venda do produto acabado é de quase um ano. Os grandes fabricantes têxteis dispõem de financiamentos a preços baixos. Na ponta, os varejistas só conseguem financiamentos a custos extremamente elevados. O custo financeiro médio de toda a cadeia é superior a 20% ao ano -contra 6% de concorrentes de economias estabilizadas. 3) O custo dos portos é extraordinariamente elevado. Na importação de componentes químicos, apenas o custo do porto de Santos (não incluídos fretes marítimos) representa quase 10% do preço final da mercadoria. Em Buenos Aires, depois da privatização, não passa de 1%. 4) O setor de autopeças vive o seguinte dilema. A montadora seleciona empresas e se dispõe a comprar toda sua produção por prazos longos. A condição básica, da qual não abre mão, é que o preço tem de ser o mesmo dos fornecedores internacionais, mesmo sem computar custos de fretes na importação. Com o chamado "custo Brasil", quem consegue se enquadrar, acaba tendo as margens de rentabilidade bastante reduzidas. 5) O setor de embalagens está rindo sozinho. As empresas presentes ao encontro sustentam dispor de preço e qualidade internacionais. A partir da abertura da economia, o setor precisou investir em equipamentos e programas de qualidade. Hoje em dia, tem preços competitivos e, depois do Real, a produção chegou a aumentar cinco vezes. Da mesma maneira que com autopeças, os clientes exigem preços internacionais. Mas, nessa área, as empresas têm condições de atender às exigências. O setor de papel e celulose está na mesma situação favorável. 6) Outro setor que continua explodindo é o de produtos lácteos. As vendas aumentaram várias vezes desde o Real, atingindo um público que, antes, jamais tinha passado por perto. Racionalizando As discussões sobre a Saúde começam a tomar o caminho da racionalidade. Parou-se com a histeria de considerar que a CPMF era o fim do mundo, ficando na avaliação (correta) de que é um mau tributo apenas, que pode ser substituído por formas provisórias mais adequadas. É curioso apenas o jogo de alternativas. No início, o analista diz que qualquer aumento no déficit público representaria o fracasso do Real. Depois, o mesmo analista sustenta que a CPMF acabará com o plano Real. Constatada a inevitabilidade de se amparar a Saúde, há a necessidade de se apresentar alternativas à CPMF. Qual é ela? Aumento do endividamento público. Texto Anterior: Governo argentino pode demitir 30 mil Próximo Texto: Safra de grãos cai 8,5% e ministro prevê importação Índice |
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