São Paulo, terça-feira, 23 de julho de 1996
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J.J. Cale agora só compõe sob pressão

EDSON FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

O guitarrista, cantor e compositor norte-americano J.J. Cale, 57, agora só compõe sob pressão. Falando à Folha por telefone da sua casa em San Diego, Califórnia, o músico diz que sua maior fonte de inspiração atualmente são os contratos com a gravadora, no caso a Virgin.
"Hoje eu não faço mais músicas. Componho CDs", afirma. Essa relativa preguiça chegou até a produção do último trabalho de Cale, o CD "Guitar Man".
"Gravei tudo sozinho porque estava cansado demais para ir a Los Angeles e recrutar músicos para participar das gravações", afirma.
A tarefa de Cale foi facilitada graças à tecnologia, que hoje dispensa a necessidade de grandes estúdios e equipamentos.
"Todas as notas que aparecem no disco foram gravadas aqui em casa, com esses pequenos gravadores de vários canais."
Calor
Segundo o músico, a única coisa que ele perdeu com esse método de gravação foi o calor inerente aos velhos gravadores de rolo.
Mais tranquilo quanto ao seu futuro musical, Cale diz que nem sempre foi possível garantir o sustento com o que é capaz de fazer com as mãos em uma guitarra e a boca em um microfone. "Já fui até frentista de posto de gasolina".
A primeira vez que Cale pousou uma guitarra em seu colo foi em 1948, quando tinha 10 anos. "Meus pais não tinham dinheiro para me dar uma, então eu emprestava dos meus amigos."
O guitarrista jamais frequentou uma escola de música. Diz que tudo o que aprendeu foi ouvindo discos. Na verdade, em suas primeiras experiências musicais, ele não se interessava muito por guitarra.
"A minha cidade natal, Tulsa, fica no meio dos EUA. Lá, o country era o tipo de música que tocava nas rádios. Eu ouvia e gostava do violino, de Bob Wills e outros músicos que não tocavam guitarra. Mas, quando eu estava com 15 anos, veio o rock'n'roll e mudou tudo."
Cale começou a tocar profissionalmente nos anos 50, em uma banda de "western swing", que era uma resposta dos músicos de country às big bands do jazz.
Não obteve sucesso. "A concorrência em Nashville era muito grande. Acho que meu country era radical demais."
Após deixar Nashville, Cale foi para Los Angeles, onde começou a desenvolver sua mistura de country, rock e blues.
Eric Clapton
Voltou para sua Tulsa (Oklahoma) natal e continuou obtendo um sucesso local até que Eric Clapton gravou "After Midnight" e revelou ao mundo o talento de Cale.
E essa história foi se repetindo. Cale ia gravando -e vendendo poucos- discos, enquanto músicos como Clapton, Rolling Stones e Mark Knopfler (guitarrista do Dire Straits) faziam milhões com as composições do guitarrista.
"É lógico que eu me orgulhava de ter minhas músicas gravadas por esses caras. Nunca me aborreceu o fato delas fazerem mais sucesso em outras mãos. Mas eu não comento as versões que eles fizeram. Só acho as minhas melhores", disse à Folha .
Voltando a falar de preguiça, Cale diz que a única coisa que nunca deixou de fazer foi tocar guitarra diariamente, com um fervor quase messiânico. E deixa um aviso aos novatos.
"Se um dia você quiser ser um J.J. Cale, pratique, pratique e pratique."

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