São Paulo, terça-feira, 23 de julho de 1996
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Novo disco traz canções marcantes e fascínio pela eletrônica

EDSON FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Guitar Man", o 12º disco na carreira de J.J. Cale, mostra um músico encantado com a eletrônica. Apesar disso, Cale conseguiu preservar seu talento para compor canções marcantes e seu estilo econômico de tocar guitarra.
Mais uma vez, Cale gravou tudo sozinho e mostrou que não precisa de auxílio. Seu único interlocutor é o ouvinte.
Garantida a uniformidade e consistência poética, a única coisa que falta é um fio condutor melódico, harmônico e nos arranjos. Mas, extraída desse disco, qualquer música poderia figurar nos trabalhos anteriores de Cale.
Mais do que um flagrante da fase atual de Cale, "Guitar Man" é o resgate histórico de uma maneira de compor, cantar e tocar.
A descoberta da eletrônica fica clara já na primeira faixa, "Death in the Wilderness", que ganha urgência devido ao uso da bateria eletrônica e um canto-relato à Lou Reed. É rap de branco.
"It's Hard To Tell" e "Old Blue" são lembretes de que Cale foi country um dia e já nascem clássicas. Estão prontinhas para serem regravadas por Mark Knopfler ou Eric Clapton.
Mas as fronteiras do country são estreitas demais para Cale. Ele se dá tão bem na malemolência "jazzy" de "Days Go By" quanto em "If I Had a Rocket", rock'n'roll estradeiro com ritmo puxado por violão acústico.
Reverência aos guitarristas, a faixa-título resume tudo o que Cale significa. Traz arranjos lacônicos, quase subliminares, e uma introdução em que sequências rápidas de notas vão ganhando e perdendo volume. É a melhor música.
Cale ainda achou tempo para dar um mergulho profundo nas águas do Mississipi. Totalmente acústico, "Perfect Woman" é um blues do jeito que era tocado no começo deste século. Mesmo sem ser o melhor trabalho de sua carreira, "Guitar Man" tem criação suficiente para manter viva a lenda de Cale.
(EF)

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