São Paulo, terça-feira, 23 de julho de 1996 |
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Frieza de 'Destruição' impressiona
MARILENE FELINTO
Na análise do diretor sueco, não houve um motivo político real para a sustentação da ideologia do nacional-socialismo alemão. Não houve inimigos ou oponentes do regime. Combatiam-se pessoas inocentes (os judeus, os doentes mentais, os miscigenados), cuja existência entrava em conflito com o sonho nazista. O documentário de Cohen traça cronologicamente a construção do sonho nazista desde seus alicerces -a poderosa frustração baseada na mente do jovem Hitler, pintor e arquiteto rejeitado aos 18 anos pela Academia de Arte de Viena. Cercado por outros artistas frustrados -a linha de frente do Terceiro Reich, como o romancista Goebbels ou o pintor Rosenberg-, Hitler teria aplicado o seu pendor artístico na política, na elaboração do monumental projeto do sonho nazista de domínio do mundo pelo embelezamento, pureza, limpeza e purificação racial. O filme impressiona pela mistura de frieza didática e narração em tom de conto de fadas (de Bruno Ganz) com que desenha a doença se formando e dominando a mentalidade do Fuhrer alemão. Até irromper a guerra, Hitler não era apenas um líder das massas, mas também um obcecado colecionador de arte que dedicava muito de seu tempo à arquitetura da nova Alemanha. Inspirado pelas idéias de Wagner, seu ídolo -a síntese do artista e do político em uma só pessoa-, Hitler fazia política como quem produz a encenação de uma ópera, um de seus maiores fascínios. Baseado nos princípios estéticos da Antiguidade clássica, inventou a "Renascença da arte alemã", em contraposição ao que o nazismo chamava de "arte degenerada", a arte judaico-bolchevique, "de decadência, depravação intelectual e espiritual". O documentário de Cohen é assombroso na demonstração limpa e clara da correlação entre arte e doença, entre arte e destruição, entre arte e "princípio de ruínas". Texto Anterior: "Prelúdio" é publicidade Próximo Texto: Coluna Joyce Pascowitch Índice |
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