São Paulo, terça-feira, 23 de julho de 1996
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Igreja rejeita uso de pílula abortiva

FDA recomendou aprovação

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O Vaticano condenou ontem a decisão de um comitê da agência que regulamenta medicamentos nos Estados Unidos de recomendar a aprovação da chamada pílula do dia seguinte.
"É a pílula de Caim: o monstro que cinicamente mata seus irmãos", diz editorial do jornal "L'Osservatore Romano".
O texto é assinado pelo padre Gino Concetti, teólogo cujas visões tradicionalmente refletem as do papa João Paulo 2º.
Um comitê da Food and Drug Administration (FDA) considerou na sexta-feira passada que o uso da droga conhecida como RU-486 na Europa e mifepristone nos EUA é um método seguro e efetivo de encerrar a gravidez no seu início.
Segundo a entidade norte-americana, a droga pode ser usada por mulheres que estejam até na sétima semana de gravidez.
'Plano perverso'
Concetti disse que o desenvolvimento da droga faz parte de uma campanha dos países mais ricos para controlar o crescimento populacional nas nações pobres.
"A drástica redução da população no Hemisfério Sul garantiria a supremacia política, industrial e comercial do Norte industrializado -plano perverso, de cegueira inaudita", escreveu o padre.
Ainda segundo o editorial, o movimento feminista também está por trás da decisão, que considera o direito da mulher de controlar seu corpo em detrimento do direito do embrião à vida.
"Se o embrião é um ser humano, ele tem sua própria dignidade e seus próprios direitos. A hegemonia feminista sobre o corpo contradiz a verdade evidente.
A resolução não tem valor de aprovação, mas é um forte indício de que o governo dos EUA tende a aprovar o uso da pílula.
A comissão da FDA adverte que o uso da pílula abortiva deve ser moderado e pede que o seu rótulo traga uma indicação dos riscos que o medicamento acarreta.
A pílula já é usada na França, no Reino Unido e na Suécia desde 89. O jornal "L'Osservatore Romano" já havia criticado o uso da pílula nesses países.
Ontem, o jornal do Vaticano também chamou a destruição de embriões congelados de "massacre pré-natal".

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