São Paulo, terça-feira, 23 de julho de 1996
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Premiê de Burundi resiste a intervenção

DO "THE INDEPENDENT"

O primeiro-ministro de Burundi, Antoine Nduwayo, disse ontem que é contra o envio de uma força de paz internacional para conter os conflitos entre tutsis e hutus no país.
"Uma força de intervenção não pode evitar novos massacres. Na verdade, poderia provocar uma catástrofe maior, tornando a situação pior", afirmou.
A comunidade internacional acredita que a intervenção de uma força de paz é a única maneira de deter a escalada da guerra civil em Burundi.
Mais de 300 membros da etnia tutsi foram mortos durante o fim-de-semana na região central do país. O premiê, que é tutsi, decretou uma semana de luto. O enterro das vítimas ocorre hoje.
A responsabilidade pelas mortes em um campo que abriga refugiados tutsis em Bugendena está sendo atribuída a hutus. Teme-se agora a vingança do Exército, dominado pelos tutsis.
No mês passado, o premiê Nduwayo concordou com a interferência de uma força internacional durante reunião de líderes africanos na Tanzânia.
Desde então, vem sendo pressionado pelo Exército e pela comunidade tutsi. Durante a semana passada, jovens protestaram nas ruas da capital, Bujumbura, contra a intervenção.
Os tutsis temem que a força internacional neutralize a ação do Exército, abrindo o caminho para a ação de milícias hutus.
A ONU informou que, desde a última sexta-feira, mais de 8.000 hutus foram obrigados a deixar Burundi e voltar para Ruanda.
Duas pessoas, um velho e uma criança de um ano e meio, morreram sufocadas durante a viagem para Ruanda, em um caminhão superlotado.
Mais de 80 mil hutus de Ruanda vivem em Burundi desde o fim da guerra civil em Ruanda.
A maioria está em campos de refugiados do nordeste do país, perto da fronteira com o Zaire. São considerados como foco de instabilidade para Burundi.
Conflito
Os hutus são 85% da população de Burundi, de 6 milhões de pessoas. A minoria tutsi controla o governo e domina o Exército.
Em Ruanda, onde a proporção entre as etnias é similar, 1 milhão de tutsis e hutus moderados foram massacrados por milícias hutus em 1994. Vencedores da guerra, os hutus mandaram centenas de milhares de hutus para o exílio, muitos para Burundi.

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