São Paulo, terça-feira, 23 de julho de 1996
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DE ONDA EM ONDA

DE ONDA EM ONDA

A inflação sob controle, os ganhos de eficiência em vários setores, a perspectiva de privatizações e da reforma do Estado criam, efetivamente, as precondições para o crescimento da economia. Seria enganoso ignorar, entretanto, que há importantes obstáculos por superar antes que possam concretizar-se as previsões do presidente Fernando Henrique Cardoso de que o Brasil estaria entrando em uma nova fase de crescimento rápido e prolongado.
Apesar de outras condições favoráveis, a valorização cambial ainda é um nó cujo desenlace não parece fácil. A possibilidade de importar a baixo preço foi e continua sendo de grande importância para a contenção dos preços. Mas o rápido aumento das compras externas fez deteriorar a balança comercial.
Assim, foi com uma dura freada na economia que o governo logrou conter o déficit externo em meados do ano passado. É natural que uma reaceleração traga consigo a ameaça de novo desequilíbrio. Produzindo e consumindo mais, o país tende também a importar maior quantidade de bens e matérias-primas.
Ao afirmar, na última sexta-feira, que o Brasil estaria entrando em uma "terceira onda, no que diz respeito ao desenvolvimento", o presidente comparou sua gestão aos períodos de maior crescimento do país.
É compreensível que o chefe do Executivo procure criar um ambiente de maior otimismo -em certa medida, tal é até mesmo sua obrigação. Mas os dados hoje disponíveis, assim como as expectativas de importantes economistas e empresários, publicadas recentemente por esta Folha, não corroboram a associação que o presidente fez entre o crescimento econômico em seu governo e o ocorrido na gestão de Juscelino Kubitschek -período que, aliás, lançaria no Brasil a semente da inflação alta, que depois se tornaria crônica. A atual expectativa de crescimento tampouco é comparável ao chamado "milagre econômico" dos anos 70.
Por mais desejável que seja uma "terceira onda", é preciso um certo realismo quanto às condições para alcançá-la. E o país tem ainda grandes desafios pela frente.

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