São Paulo, terça-feira, 23 de julho de 1996
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DIREITA, VOLVER

Magalhães Pinto, veterano político recém-falecido, costumava dizer que as condições políticas são como as nuvens. Olha-se para elas em um dado instante e têm uma forma. No momento seguinte, seu feitio já mudou. É uma descrição que vale para a conformação atual do horizonte político. Pela primeira vez em muitos anos, o fantasma, do ponto de vista dos grupos governantes, não é a esquerda, mas a direita, ainda que tais rótulos tenham caído em desuso.
Na eleição presidencial de 89, chegou-se até a cunhar a expressão "monstro Brizula" para designar a perspectiva de que vencesse Leonel Brizola ou Luiz Inácio Lula da Silva.
Era tão forte essa expectativa que os setores políticos tradicionais acabaram recorrendo à candidatura de um adventício, Fernando Collor de Mello, por aparentar ser o único capaz de domar o suposto monstro.
Cinco anos depois, mais uma vez, o fantasma era o candidato do PT, que saiu na frente na disputa presidencial, até ser atropelado e derrotado pelo candidato que encarnava as virtudes da estabilização da economia.
Para 98, entretanto, a esquerda não assusta. Os governistas consideram, diferentemente, que seu principal adversário está à direita, se assim for rotulado Paulo Salim Maluf, o prefeito paulistano. Hoje, parece ser ele o único oponente com chances de êxito ante um candidato do conjunto de forças no governo, mesmo que este venha a ser o atual presidente, na hipótese de se aprovar a reeleição.
É por isso, aliás, que se "federalizou" a eleição municipal na capital de São Paulo. Nela se decidirá pelo menos parte do fôlego dos "presidenciáveis" para 98.
Claro que tudo pode mudar. Talvez as nuvens políticas já tenham outro formato no ano que vem ou quando da próxima eleição. Mas houve certamente uma mudança substancial em relação a pleitos anteriores. É mais uma evidência impressionante de como são velozes as transformações -tanto políticas como econômicas- no mundo contemporâneo.

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