São Paulo, quarta-feira, 24 de julho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bancos centrais toleram pressão, diz BIS

GUSTAVO PATÚ; CARI RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pressões políticas sobre os bancos centrais da América Latina permitiram a tolerância a práticas financeiras indesejáveis e a instabilidade nos sistemas bancários.
Essa avaliação foi feita ontem por Andrew Crockett, gerente-geral do BIS (Banco de Compensações Internacionais, uma espécie de banco central dos bancos centrais de todo o mundo, localizado na Suíça).
Crockett foi um dos palestrantes do seminário "Banco Central - Uma Visão para o Terceiro Milênio", que começou ontem no BC e se estenderá até amanhã.
Segundo o executivo do BIS, os bancos centrais de países latino-americanos têm maior tendência a tolerar práticas irregulares cometidas no sistema bancário.
Isso distingue a América Latina do resto do mundo. Segundo Crockett, pressões políticas em favor de bancos ocorrem também em países desenvolvidos. Mas, nesses casos, as pressões são enfrentadas com maior sucesso.
Entre as irregularidades citadas estão os casos de bancos que concedem empréstimos a empresas coligadas e de bancos estatais que fazem operações pouco lucrativas por determinação do governo.
Embora sejam exemplos aplicáveis ao Brasil, Crockett preferiu não falar de casos específicos. Disse apenas que as pressões políticas também acontecem aqui.
Elogiou, porém, a solução brasileira para as crises bancárias: separar a parte "ruim" e transferir a parte "boa" de um banco problemático a outro em boas condições -como aconteceu com o Nacional, absorvido pelo Unibanco.
Outro palestrante do seminário do BC, Charles Goodhart, professor da London School of Economics, citou o Banespa como exemplo de banco que concedeu empréstimos por motivação política -e teve prejuízo.
Mandatos fixos
No seminário, o ministro Pedro Malan (Fazenda) defendeu que a diretoria do BC tenha mandatos fixos, o que a tornaria menos sujeita a interferências políticas.
Trata-se de uma idéia antiga da equipe econômica, mas nunca posta em prática. Para isso, seria necessário regulamentar o artigo 192 da Constituição, que trata do sistema financeiro.
O problema, para o governo, é que o mesmo artigo limita os juros em 12% reais (acima da inflação) ao ano -o que o próprio BC considera impraticável.
O ministro Antonio Kandir (Planejamento) defendeu projeto de sua autoria, quando deputado, retirando do artigo 192 o limite para os juros.
"É impossível regulamentar o sistema financeiro nacional com o atual texto constitucional", argumentou Kandir.
(GUSTAVO PATÚ e CARI RODRIGUES)

Texto Anterior: Pontual contesta posição da Mesbla
Próximo Texto: CEF avalia o Bamerindus
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.