São Paulo, quarta-feira, 24 de julho de 1996
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Londres comemora centenário do decorador William Morris

Artista é tido como o pai da padronagem floral inglesa

TÂNIA MARQUES
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LONDRES

O Victoria and Albert Museum está realizando uma grande exposição para marcar o centenário da morte de William Morris, tido como o pai das padronagens florais e frutais da decoração inglesa.
Mas Morris foi mais que isso. Perseguidor da beleza em suas mais diversas expressões, foi designer, pintor, gravador, poeta, tradutor e calígrafo, além de teórico socialista, conservacionista e ecologista.
Alguns o têm por precursor do movimento modernista. O princípio de fidelidade ao material, que nortearia a escultura inglesa no século 20, já era elemento básico em suas palestras em 1881.
A exposição é formada por mais de 500 peças entre trabalhos de Morris e do grupo pré-rafaelita, que, reunido em torno do artista plástico e poeta Dante Gabriel Rossetti, buscava padrões estéticos anteriores a Rafael.
O retrato de Jane Burden, que se tornaria sua esposa em 1858, como "A Bela Isolda", é um dos pontos altos da exposição, por retratar um erotismo que não se encontra na obra de Morris.
A sensualidade de Burden é explorada de maneira mais explícita no retrato que Rossetti fez dela na mesma época e que também faz parte da exposição.
Burden foi a modelo e musa predileta de Rossetti por toda a vida. Um romance entre os dois chegaria ao conhecimento de Morris em 1871, e uma charge de Rossetti datada de 1869 o retrata como um marido relapso, incapaz de desviar os olhos de seu livro enquanto a bela esposa toma banho.
Há uma sala dedicada aos vitrais encomendados por igrejas aos pré-rafaelitas e outra exibindo peças decorativas da "Red Rouse" (Casa Vermelha), a primeira residência de Morris e Burden.
Outro ponto alto é a ala dedicada à produção da Morris, Marshall, Faulkner & Co, uma associação entre Morris, seu grande amigo Edward Burne-Jones, Webb, Rossetti, Ford Madox Browm, Charles Faulkner e o pintor amador Peter Paul Marshall. Morris, que assumiu a gerência da empresa, viria a encarregar-se dela em 1875, com o rompimento da sociedade.
A mostra reedita a primeira aparição pública dos produtos da empresa, na Exposição Internacional de 1862. Em 1877, a Morris, Marshall, Faulkner & Co. instalou uma loja em Oxford Street, onde comercializaria produtos para a decoração de interiores. Em 1881, colocou uma fábrica em operação.
Na época, Morris já tinha conquistado fama também como poeta, com a publicação de "The Earthly Paradise" ("O Paraíso Terreno"), em 1870.
Em 1877, Morris tornou-se presidente da Sociedade de Proteção a Prédios Históricos. Em 1891, fundou o Kelmscott Press, onde finalmente poderia realizar o sonho de produzir um livro perfeito, no qual os padrões gráficos e as ilustrações se provassem tão artísticos quanto o texto. Seriam esses os interesses nos quais ele se concentraria até a morte, em 1896.
Em uma palestra em 1883, ele revelou uma visão da arte que corresponde ao que hoje se chamaria de planejamento ambiental, referindo-se a "todos os exteriores que fazem parte da vida". Para ele, a busca da beleza envolvia o planejamento das paisagens.
Sua obsessão pela decoração de interiores -ele uma vez afirmou que uma bela casa é uma das mais completas expressões artísticas- fazia parte desse conceito, que ele via como instrumento de combate à alienação e decadência da sociedade industrial.

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