São Paulo, quinta-feira, 25 de julho de 1996
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Juro maior nos EUA pode prejudicar Brasil

GUSTAVO PATÚ; CARI RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Neste segundo semestre, a alta dos juros e a queda do mercado acionário nos Estados Unidos poderão prejudicar os países latino-americanos dependentes de capital externo, entre eles o Brasil.
Segundo a avaliação de Francisco Gros, ex-presidente do Banco Central e hoje executivo do banco de investimentos Morgan Stanley, o país poderá sofrer efeitos indiretos das dificuldades da Argentina em captar investimentos estrangeiros.
O raciocínio é o seguinte: com o mercado norte-americano mais retraído, a Argentina terá dificuldades em atrair os dólares necessários para compensar seu déficit público.
Esse déficit é estimado pelas autoridades argentinas em US$ 2,5 bilhões. Para o Morgan, esse rombo deve atingir US$ 4,5 bilhões.
Para cobrir os gastos acima da receita, o governo argentino precisará tomar dinheiro emprestado. Chegando esse momento, os recursos externos no mercado financeiro vão fazer falta.
Com base nesses argumentos, Gros afirmou que o governo brasileiro, hoje preocupado com o excesso de entrada de dólares, deve inverter seus temores.
Ele disse que o Brasil tem condições de atenuar os abalos decorrentes de uma eventual crise argentina. "Mas o problema é que vivemos no mesmo mundo."
A tese de Gros foi apresentada ontem no seminário "Banco Central -Uma Visão para o Terceiro Milênio", que será encerrado hoje pelo BC.
Menos dinheiro
Segundo o executivo do Morgan Stanley, a retração do mercado internacional se tornou clara nos últimos 20 dias.
O fenômeno, avalia Gros, tem duas causas. A primeira é o início da queda do mercado de ações norte-americano, após alta contínua desde 1990.
Para o Morgan, o mercado pode ter retração de até 20%. "Isso significa que a riqueza dos investidores cairá nesse percentual", calculou Gros.
Em segundo lugar, o Fed (banco central norte-americano) deverá elevar suas taxas anuais de juros de 7% para até 8%, com o objetivo de eliminar os sintomas de alta inflacionária nos Estados Unidos.
Embora o Brasil disponha de US$ 60 bilhões em reservas no Banco Central, o governo é deficitário. Isso pode espantar os investidores externos.
O economista André Lara Resende, um dos autores do Plano Real, avaliou que o Brasil corre poucos riscos, pois tem boa capacidade de obter investimentos externos.
Mas ponderou que o controle do déficit público prometido pelo governo caminha a passos lentos.
(GUSTAVO PATÚ e CARI RODRIGUES)

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