São Paulo, quinta-feira, 25 de julho de 1996
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Ópera "Tannhãuser" estréia em São Paulo após 75 anos

Montagem inicia temporada amanhã, no Testro Municipal

WILLIAM LI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Estréia amanhã, às 20h30, no Teatro Municipal, uma nova montagem da ópera "Tannhãuser", de Richard Wagner, uma das mais belas e profundas do compositor alemão.
"Tannhãuser" estreou em Dresden em 1845, tendo o próprio Wagner como regente. Em 1861, a ópera foi montada em Paris, com bailado, como os franceses exigiam.
Insatisfeito com a modificação, foi somente em 1872 que a versão definitiva da abertura, chamada "versão de Dresden", foi incorporada à ópera.
As fontes que Wagner foi buscar para esta magnífica partitura foram a mitologia alemã, a história e a religião.
A história se passa no tempo dos menestréis e procura ressaltar o contraste entre o amor profano e sagrado.
Tannhãuser oscila entre o amor puro por Elisabeth, sobrinha do conde Hermann, e o amor sensual praticado no Monte de Vênus, próximo ao castelo do conde.
Luta interna
Assim, fica delineada na ópera a luta interna que se dá na alma de Tannhãuser entre o bem e o mal, o amor puro e o amor sensual.
Mas há mais um ingrediente importante na ópera: a presença do catolicismo como caminho para a salvação da alma. Com efeito, Tannhãuser só se liberta de Vênus após invocar a Virgem Maria.
Depois, ao cantar a sensualidade de Vênus, em um encontro de menestréis, e estes descobrirem onde esteve Tannhãuser, obrigam-no a fazer uma peregrinação a Roma para obter o perdão do papa e tornar-se digno de Elisabeth.
Daí o famoso episódio, quando o papa lhe declara que assim como de seu cajado seco não podem brotar folhas verdes, o pecado de Tannhãuser não pode ser perdoado.
Desolado, volta a sua terra, onde morre com Elisabeth. No final, um coro de peregrinos recém-chegados de Roma proclama exultante: "Folhas verdes brotaram do cajado do papa!"

A abertura de "Tannhãuser" é uma das mais conhecidas peças de concerto. Iniciando em pianíssimo com o coro dos peregrinos, simboliza a fé ardente de Tannhãuser, mas vai pouco a pouco dando lugar ao tema do Venusberg (o Monte de Vênus), mostrando Tannhãuser como presa dos prazeres sensuais.
Uma melancólica melodia nas cordas fá-lo relembrar-se da vida passada, e aos poucos o tema dos peregrinos volta com força, confirmando Tannhãuser na sua fé.
Essa versão de concerto da abertura não é a que se costuma tocar na ópera: quando chega o tema de Venusberg, a cortina se abre e mostra Tannhãuser preso, implorando a Vênus que o liberte.
Devido a um problema de saúde, o maestro Isaac Karabtchevsky teve de recorrer a um colega seu para reger a ópera.
Assim, a direção musical e a regência estão a cargo do alemão Siegfried Kõhler, de Frankfurt. Ele fez elogios à orquestra e chegou a declarar que a Sinfônica Municipal se iguala à de qualquer teatro médio europeu, com exceção de Berlim e Viena.
Os ensaios foram intensos, pois a partitura é extremamente difícil, e foi uma surpresa ouvir a Orquestra Sinfônica Municipal no ensaio geral de terça-feira.
O tenor finlandês Heikki Siukola, um gigante com mais de dois metros de altura, cantou o papel de Tannhãuser com uma voz possante, sobrepondo-se à enorme orquestra. Pode ser a grande estrela da noite. Ele também elogiou a atuação da orquestra e principalmente do Coral Lírico Municipal.
Divas
Gail Gilmore (Vênus) e a sueca Helena Doese (Elisabeth) também poderão ser as divas da noite. Os cenários e figurinos, dentro do projeto Mercosul Cultural, vieram do teatro Colón, de Buenos Aires.
Após ter ficado por 75 anos sem ser encenada em São Paulo, é de se louvar a iniciativa e coragem do maestro Karabtchevsky de trazer uma ópera tão complexa até nós, confiando na orquestra e no coral lírico do Municipal.

Ópera: Tannhãuser
Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo s/nº)
Quando: Dia 26, às 20h30; dia 28, às 17h; dia 31, às 20h30; dia 3 de agosto, às 20h30
Quanto: de R$ 5 a R$ 25 (ingressos à venda nas bilheterias do teatro)

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