São Paulo, quinta-feira, 25 de julho de 1996
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Lynch se recusa a morrer

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

David Lynch é um enigma. Conduzindo seus filmes para o universo do bizarro, seu cinema se divide entre a afetação e o choque.
"Veludo Azul" (Telecine, 1h), quando foi lançado, fazia parte da leva de filmes que estaria, segundo parcela da crítica, nos colocando na "modernidade". No mundo das citações inteligentes e da vitória plena do esteticismo.
"Veludo" é um tratado sobre as perversões em uma típica -o que significa anódina- cidade dos EUA. Depois de descobrir uma orelha sobre a grama, um rapaz começa a se interessar sobre o que teria ocorrido e, assim, mergulha em uma história que envolve sexo, drogas e qualquer outra coisa que rime com loucura.
Mas um resumo não consegue dar conta do que Lynch nos mostra. Seus personagens são deslocados do mundo, doentes em suas ações, roupas ou fantasias.
"Veludo" parece querer avisar, em cada uma de suas cenas, que o lugar em que estamos é perigoso, cheio de pragas iminentes.
E é nesse perigo que Lynch se perde. Seu cinema se rende à idéia do desvio. Assim, toda força se converte apenas em maneirismo. Mais um cadáver da década de 80 que se recusa a morrer.

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