São Paulo, quinta-feira, 25 de julho de 1996
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Carioca faz 'El Mariachi' à brasileira

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

O Robert Rodriguez brasileiro também se chama Roberto. Só que, em vez da origem hispânica, carrega um sobrenome italiano, herança do avô paterno.
Cineasta formado pela Columbia College, de Hollywood, o carioca Roberto Santucci Filho, 28, está finalizando seu primeiro longa-metragem, "Olé".
Não por acaso, o filme de 90 minutos guarda muitas semelhanças com "El Mariachi", do texano Rodriguez.
Acompanhe: há cinco anos, o Robert de lá, jovem desconhecido que trazia no currículo um curta-metragem premiado em 14 festivais, quis alçar vôos maiores.
Procurou um amigo de infância, Carlos Galhardo, e lhe mostrou o roteiro de um longa. Tinha no bolso US$ 3.000, que ganhara como cobaia de uma nova droga para combater o colesterol.
Galhardo gostou do que leu, decidiu apostar e vendeu um terreno de família por US$ 4.000.
Com os US$ 7.000, os dois rapazes rodaram "El Mariachi" em 14 dias. Galhardo trabalhou como ator. Rodriguez atacou de diretor, fotógrafo e montador.
Em tom caricaturesco, produziram um misto de faroeste e policial. Contavam a história de um músico mexicano que, perambulando pelos Estados Unidos, acaba confundido com um matador.
O filme de 16 milímetros chamou a atenção da Columbia Pictures, que o converteu para 35 milímetros e o lançou no mundo inteiro.
Rodriguez virou "darling" de Hollywood, fez outros longas ("A Balada do Pistoleiro", "Um Drink no Inferno") e escreveu um livro relatando como conseguiu realizar "El Mariachi" com tão pouco dinheiro.
É neste ponto que entra o Roberto de cá. Ele trocara o Rio por Los Angeles em 89. Pretendia estudar cinema. Frequentou cursos de extensão na Universidade da Califórnia (UCLA) e, depois, se diplomou pela Columbia College.
Para se sustentar, bateu à porta dos grandes estúdios. A Paramount e a Columbia Pictures o acolheram.
O brasileiro trabalhou, então, como assistente de montagem em pelo menos uma superprodução, "Lendas da Paixão", protagonizado por Brad Pitt. O ator cobrou cachê de US$ 3,5 milhões para interpretar Tristan.
Enquanto convivia com as altas cifras hollywoodianas, Santucci dirigiu dois curtas, "Bienvenido a Brazil" e "Helpless". No início de 96, porém, teve a mesma coceirinha de Rodriguez e resolveu arriscar um longa.
"Fazer curtas é uma tarefa muito ingrata. Você investe tempo e energia em filmes sem mercado", diz. "Sempre alimentei a idéia de rodar um longa-metragem com pouco dinheiro. Mas precisava de um empurrãozinho."
O incentivo veio quando Santucci leu o livro de Rodriguez, "Rebel without a Crew" ("Rebelde sem Equipe"). Com o volume na mão, saiu atrás de dois amigos americanos, Bart Mallard e Michael Carp.
Convenceu-os de que, se o texano conseguira produzir "El Mariachi", também eles poderiam rodar "Olé", uma comédia de ação. O enredo: um brasileiro, Raimundo de Jesus, procura a irmã Severina em Los Angeles e se envolve com traficantes de cocaína.
Juntando as economias de anos, os três amigos totalizaram US$ 20 mil (menos do que a Globo gasta para gravar um capítulo de novela). Alugaram uma câmera Arriflex SR 2, de 16 milímetros, e concluíram o filme em duas semanas, entre fevereiro e março.
O elenco de dez atores, recrutado nos teatros de Los Angeles, contava com Bart e dois brasileiros.
A equipe técnica tinha cinco pessoas, incluindo Carp e Santucci. A atriz Linda Miller fez as vezes de maquiadora e cenógrafa. Não bastasse, ainda topou uma figuração: dançar nua, com uma peruca morena, numa cena de stiptease.

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