São Paulo, sexta-feira, 26 de julho de 1996
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Laudo diz que tiro de fuzil matou Lamarca

WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O tiro que matou o ex-capitão do Exército e guerrilheiro Carlos Lamarca foi disparado de um fuzil 762 e lhe atravessou o tórax e o coração. Esse foi 1 dos 7 disparos que atingiram o guerrilheiro, nenhum deles disparado à queima-roupa.
Essa é a conclusão do terceiro laudo sobre a morte de Lamarca, finalizado ontem pelo perito Nelson Massini, 46, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e por José Eduardo Reis, 48, diretor do Instituto Médico Legal de Brasília.
O laudo indica que foram sete os tiros que atingiram Lamarca. Os legistas tinham dúvidas quanto à trajetória de um deles, o que poderia reduzir a seis os disparos. Depois de exame de dinâmica da cena, simulada em computador, os legistas concluíram que um sétimo tiro foi disparado no tórax esquerdo, quebrando uma costela.
Esse resultado (sete tiros) coincide com o primeiro laudo cadavérico, feito pelo legista Charles Pitex, da Polícia Federal da Bahia, em setembro de 1971. Esse laudo era desconhecido até o início deste mês.
A diferença é que Pitex indicou como dois o que os legistas agora consideram apenas um tiro, de fuzil, que atravessou todo o tórax e o coração de Lamarca. Considerado o "tiro fatal", ele atravessou antes o braço direito.
Em entrevista ontem, Nelson Massini evitou entrar no mérito da morte de Lamarca. "Não tenho provas circunstanciais. A cena do crime não foi preservada e não se tem registro fiel dela", afirmou.
O legista, que pretende criar um núcleo de medicina legal social (ligado a direitos humanos) na universidade em que trabalha, disse que só poderia confirmar a trajetória dos tiros e sua possível distância (nenhum à queima-roupa), além da identidade de Lamarca.
Uma hipótese que Massini acredita possível -embora ele não vá atestá-la -é que Lamarca estivesse dormindo (como relataram seus companheiros à época) e, com a chegada de policiais por um dos lados, tentou fugir.
Lamarca teria então sido atingido nas nádegas e na mão direita, o que fez com que ele caísse. Ele teria ainda tentado levantar-se e, nessa hora, recebeu o tiro fatal de fuzil, de cima para baixo. Outra hipótese é que o tiro que atingiu o seu braço esquerdo, varando-lhe o ombro, o teria jogado ao chão.
Massini acredita que as escoriações no peito e no olho esquerdo de Lamarca tenham sido provocadas por atrito com a areia ou terra, numa possível queda.
Com base em fotografias, ele fez um relato do estado físico do guerrilheiro: anêmico, abatido e em situação precária de saúde.
"Se não fosse o ano de 1971, poderia até dizer que ele (Lamarca) era um paciente terminal de Aids, dada sua condição física e nutricional", afirmou Massini.

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