São Paulo, sexta-feira, 26 de julho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NAUFRÁGIO EM ATLANTA

O jornal "The Washington Post" de anteontem emitiu uma sentença que soa como definitiva: quem perdeu os Jogos Olímpicos de Atlanta, até agora, foi a própria cidade. Um grande fracasso organizacional faz com que todos, atletas e público, queixem-se de tudo, diz o "Post".
O jornal japonês "Asahi Evening News" ecoa, do outro lado do mundo: "O que pode ser pior do que um trem superlotado, na hora do rush, em um dia de derreter, em Tóquio? Um trem superlotado do metrô de Atlanta em tempos olímpicos".
Na Europa, as emissoras de televisão anunciam que vão pedir indenização aos organizadores por "quebra de contrato". Alegam que o fracasso na transmissão de informações para os jornalistas que cobrem os jogos equivale ao não-cumprimento dos termos estabelecidos.
Dos três principais pólos do mundo moderno, EUA, Europa e Japão, tem-se, portanto, um diagnóstico demolidor sobre a organização da Olimpíada de 1996, sediada no país que é a maior potência do planeta, tida como campeã da organização, da tecnologia, do planejamento.
Ainda é cedo, evidentemente, para fazer o balanço definitivo das causas dos transtornos olímpicos. Em parte, é razoável supor que os números ciclópicos envolvidos na operação expliquem parte das falhas. No caso do metrô, por exemplo, o número normal de passageiros (475 mil por dia) quase duplicou. Foram 851 mil ao dia no último final de semana.
Mas foi assim também em Barcelona, em 1992, e nem por isso houve o naufrágio que agora se desenha.
À primeira vista, pode-se concluir que o sucesso de eventos desse porte depende muito de um envolvimento da própria comunidade local e, por extensão, de sua boa vontade e disposição para colaborar. A julgar pela comparação com o êxito de Barcelona-92, o empenho humano parece ser tão importante quanto a mais moderna tecnologia.

Texto Anterior: VELHOS PECADOS
Próximo Texto: Rodízio eletrônico
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.