São Paulo, sexta-feira, 26 de julho de 1996
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VELHOS PECADOS

A Prefeitura de São Paulo acaba de liberar R$ 800 mil como forma de subvenção à Associação Beneficente Cristã (ABC), instituição filantrópica ligada à Igreja Universal do Reino de Deus. De sua parte, o pastor Ronaldo Didini, um dos dirigentes da entidade, vem fazendo elogios aos programas do prefeito Paulo Maluf e expressa agora publicamente sua preferência pelo candidato da situação, Celso Pitta. Este, por sua vez, procura comparecer aos atos de distribuição de alimentos promovidos regularmente pela entidade.
Seria pouco realista acreditar que todas as ações destinadas a favorecer os candidatos a cargos eletivos, durante o período pré-eleitoral, viessem a primar pela transparência e pela correção. No afã de conquistar o maior número possível de votos, frequentemente produzem-se muitos pecados, sobretudo no uso da chamada máquina pública.
A reincidência pouco sutil em determinadas transgressões, entretanto, parece pressupor que a grande maioria dos eleitores é composta por otários incorrigíveis.
Considerando o grande número de adeptos que a igreja do bispo Edir Macedo vem angariando nos últimos anos em São Paulo, é absolutamente inevitável constatar que a liberação de verbas para grupos assistenciais como a ABC indica um cálculo eleitoral ostensivo, custeado, além de tudo, por dinheiro público. Trata-se de evidente oportunismo político, claramente voltado à finalidade de obter uma maior adesão dos evangélicos à candidatura do PPB.
Independentemente dos possíveis méritos do trabalho assistencial da instituição, esse aspecto meritório não afasta o inegável objetivo político da doação de verbas oficiais, feita a apenas dois meses da eleição.
Que não se acredite, pois, em meras coincidências. Manobras como essa são definitivamente inaceitáveis.

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