São Paulo, sexta-feira, 26 de julho de 1996
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O grande afobado

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Por meio de seu porta-voz, o presidente da República declarou-se "surpreso" com a idéia da criação de uma CPI para investigar a manipulação das verbas do Orçamento que estão ajudando determinados candidatos a prefeito.
Lembrei outro dia a cena de um filme de Jimmy Durante que se aplica a FHC. Jimmy trabalha num circo e está roubando um elefante que é seu amigo. Os policiais e o dono do circo perguntam-lhe para onde está levando o paquiderme. Surpreso como FHC, Jimmy Durante abre os braços tentando esconder o animal dez vezes maior do que ele. E rebate: "Que elefante?"
Em nome do presidente, o porta-voz negou que haja manipulação do Orçamento para ajudar os candidatos amigos, ou seja, os amigos do peito presidencial.
Pode-se chegar a essa dedução pelo simples fato de que a CPI está sendo pedida por parlamentares do PSDB. Com falta de imaginação, tanto o porta-voz como o presidente atribuem a idéia ao desejo de "aparecer" -assunto no qual FHC é categorizado especialista.
Em matéria de "aparecer", todos lembramos a extravagante aparição de FHC ao lado de Collor, quando o ex-presidente se dirigia ao Congresso para tomar posse. O universo político sabia que FHC cavara dramaticamente um ministério no governo de Tancredo, depois lutara por um ministério no governo Collor.
Na atual fauna política, não existe ninguém com a afobação revelada pelo atual presidente na carreira que o levou ao poder. Sua "finest hour" custou ao finado Jânio Quadros a compra de um spray para dedetizar certa cadeira em São Paulo. Depois dessa, qualquer um pode reclamar da afobação dos outros, menos o presidente da República.
Antes de acusar os parlamentares de quererem aparecer, o presidente deve seguir o tradicional conselho que as comadres machadianas gostavam de dar: olhar o próprio rabo.

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