São Paulo, sábado, 27 de julho de 1996
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Brasil reduz HIV do sangue de doentes

VICTOR AGOSTINHO
AURELIANO BIANCARELLI

VICTOR AGOSTINHO; AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Com uso de drogas, número de vírus baixa a ponto de não ser detectado em exames; médicos ainda não falam em cura

Médicos brasileiros estão conseguindo repetir no país a experiência apresentada há duas semanas no congresso mundial de Aids de Vancouver, no Canadá.
A partir de uma combinação de drogas que inclui a mais nova delas -um inibidor de protease-, infectologistas brasileiros fizeram com que a quantidade de vírus da Aids baixasse a níveis indetectáveis no sangue de seus pacientes.
Os últimos resultados foram apresentados anteontem, no 1º Congresso Nipo-Brasileiro de Retroviroses Humanas, pelo médico Artur Timerman. Segundo ele, 8 de seus 63 pacientes tiveram o vírus "zerado" no sangue.
Preocupado com interpretações erradas, Timerman é o primeiro a dizer que isso não significa a cura da Aids, já que o vírus pode ter ido para um "cemitério de elefantes".
A expressão é usada pelos médicos e significa que o HIV pode ficar escondido em células fora do sangue até conseguir condições favoráveis para continuar a agir.
O "coquetel" de drogas usado por Timerman em seus pacientes inclui AZT, 3TC e o inibidor de protease Invirase. A medicação passou a ser ministrada desde dezembro passado em pacientes em diferentes estágios da doença.
"Houve melhora clínica em todos os pacientes que tomaram o coquetel. Em uma paciente casada com um soropositivo -que se infectou pelo rompimento da camisinha-, o resultado foi quase imediato. Constatamos a contaminação e passamos a usar o coquetel. Depois, um teste de Aids convencional não deu positivo."
Para ter certeza que o HIV foi realmente erradicado do corpo da pessoa seria necessário fazer pesquisa intracelular (biópsia) no organismo, metodologia que ainda engatinha nos principais laboratórios do mundo.
Timerman, que foi ao congresso de Vancouver, diz que não foi possível relatar suas experiências no evento porque os resultados dos exames de seus pacientes só chegaram depois de encerrado o prazo para as inscrições dos trabalhos.
Cautela
Os bons resultados obtidos por Timermam já foram igualmente registrados por vários outros infectologistas brasileiros. Em um estudo feito com 224 pacientes do Hospital das Clínicas (SP), 34% não tiveram o vírus detectado.
Caio Rosenthal, infectologista do Emílio Ribas, diz que muitos de seus pacientes já apresentaram a mesma redução da carga viral registrada por Timerman. A queda do número de vírus para quantidades não-detectáveis também já foi obtida em seus pacientes com o uso combinado de AZT e ddI, afirma Rosenthal.
"Os resultados precisam ser analisados com cautela e ao longo de um período maior", afirma. Os médicos consideram inadequado o termo "zerar" o vírus. "O HIV continua existindo, mas em quantidades menores", diz Rosenthal.

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