São Paulo, sábado, 27 de julho de 1996
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Cavallo cai; Menem tenta manter o plano

DANIEL BRAMATTI
DE BUENOS AIRES

O presidente da Argentina, Carlos Menem, 66, demitiu ontem à tarde o ministro da Economia, Domingo Cavallo, idealizador e principal avalista do plano econômico que acabou com a hiperinflação no país ao atrelar a moeda local ao dólar.
Para o lugar de Cavallo, 50, foi nomeado o atual presidente do Banco Central, Roque Fernández, 49. A escolha de um integrante da equipe foi interpretada pelo mercado como um sinal de que não haverá mudanças no plano.
Ainda assim, a notícia do fim da chamada "era Cavallo" provocou tumulto na Bolsa de Buenos Aires, que fechou em queda de 4%, depois de abrir em alta. Os bancos também registraram uma corrida em busca de dólares, que chegaram a ser vendidos a 1,10 peso.
O nome de Fernández era a terceira opção de Menem. O primeiro convidado foi o economista Roberto Alemann, ministro da Economia durante o governo do general Leopoldo Galtieri.
Diante da recusa de Alemann, o presidente procurou o economista Miguel Angel Broda e também não obteve sucesso.
Sintonia
Menem fez questão de dizer que Fenández concorda com a "filosofia" imposta nos cinco anos de gestão de Cavallo. "Trata-se de um homem comprometido com o modelo adotado no nosso país", disse o presidente, em uma entrevista coletiva concedida no início da noite.
O presidente negou que tenha nomeado um "ministro provisório", como chegaram a especular alguns políticos e economistas. "Isso não existe. Fernández veio para ficar", afirmou.
A entrevista coletiva começou com palavras de agradecimento a Cavallo. "É um grande economista e um homem probo, mas há etapas que se cumprem", disse Menem, sorridente e bem-humorado.
O novo ministro disse que sua prioridade será o combate à sonegação de impostos e negou a possibilidade de mudar a paridade entre o peso e o dólar.
Resistência
Os rumores sobre a queda do ministro começaram pela manhã, quando Cavallo foi chamado para uma reunião com o presidente, na Casa Rosada.
Menem pediu que seu auxiliar renunciasse e foi para a residência oficial de Olivos, onde se reuniu com Roberto Alemann -sempre citado como candidato a ministro.
Cavallo, porém, não renunciou. Às 15h, seu porta-voz, Adrian Gomez, desmentia "com veemência" as versões sobre a demissão. O ministro, nesse momento, participava de um almoço com empresários, como se nada estivesse acontecendo.
Pouco antes das 16h, Cavallo foi para casa, em vez de voltar para o ministério -que sofria uma pane telefônica por causa da sobrecarga de chamadas em busca de informações.
Diante do silêncio do ministro, Menem tomou a iniciativa. Às 16h30, ordenou que o porta-voz da Presidência, Raúl Delgado, anunciasse a demissão.
Festa na praça
A notícia foi recebida com festa na Praça de Maio, lotada de manifestantes que protestavam contra o último pacote de Cavallo, que reduziu a renda de pelo menos 1,8 milhão de trabalhadores.
O ministro da Economia caiu em uma data emblemática para os argentinos. Ontem foi comemorado o 44º aniversário da morte de Eva Perón, que para muitos simboliza o Estado do bem-estar social, desmantelado pelo atual modelo econômico.

LEIA MAIS sobre Argentina nas págs.2-3, 2-4, 2-5, 2-6 e 2-10

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