São Paulo, sábado, 27 de julho de 1996
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'Policarpo Quaresma' questiona 'jeitinho'

RONI LIMA
ENVIADO ESPECIAL A JUIZ DE FORA (MG)

Neste momento de questionamentos sobre os efeitos positivos e negativos da globalização da economia no país, o cineasta Paulo Thiago propõe uma abordagem artística desse tema com o seu filme "Policarpo Quaresma, Herói do Brasil".
Baseado no livro "O Triste Fim de Policarpo Quaresma", do escritor carioca Lima Barreto (1881-1922), o filme conta a história de um patriota indignado com os rumos do Brasil do fim do século passado, contaminado pela cultura francesa.
A oportunidade de poder encenar a história desse Quixote brasileiro, vivido pelo ator Paulo José, que luta contra a corrupção e a desigualdade social, está empolgando a equipe técnica e o elenco.
"O Policarpo não quer o jeitinho brasileiro, ele quer a ética mesmo", define o ator Paulo José, um dos mais apaixonados pela obra de Lima Barreto. As filmagens entraram na terceira semana, em locações em Juiz de Fora (MG).
A atriz Giulia Gam, que faz Olga, a afilhada de Policarpo, é outra encantada pela temática discutida. "Lima Barreto continua atual. Ele coloca esse problema da burocracia, do governo. É bonito esse personagem que ele criou."
Com roteiro de Alcione Araújo, o filme reúne um elenco de quase 50 atores -como Claudio Mamberti, Bete Coelho, Othon Bastos, José Lewgoy, Aracy Balabanian, Jonas Bloch, Fernando Eiras e Ilya São Paulo.
O diretor Paulo Thiago, 50 -que já fez "Jorge, um Brasileiro" e "Vagas para Moças de Fino Trato", entre outros-, diz que o que mais o atraiu para filmar foi o desafio de recriar o clima de farsa e humor presente nesse texto.
Uma difícil tarefa, enfatiza. "É um desafio para um cineasta fazer esse gênero. Quando se tem um momento de crise, de transformação, como hoje e no tempo de Lima Barreto, o humor é o instrumento mais forte de crítica."
Paulo José diz que o filme tem cenas impagáveis, como quando Quaresma, que luta para estabelecer o tupi-guarani como língua nacional, grita "catupiri" ao fazer sexo. "Cati quer dizer bom. Piri, mais do que bom", afirma.
Para o diretor, essa busca do tom farsesco tem sido um exercício de linguagem muito grande para toda a equipe. Na quinta passada, parte do elenco exercitava esse desafio no museu Mariano Procópio, no centro de Juiz de Fora.
O cenário antigo servia para o diretor de fotografia, Antonio Penido, dar a sua contribuição para o clima de fantasia da história: a luz. Há em geral muita iluminação no filme, para enfatizar que a luz é construída e não natural.
Cuidadosos, Penido e Thiago chegaram a pesquisar a luminosidade de quadros de pintores brasileiros da época de inspiração impressionista, como Eliseu Visconti e Antônio Parreiras.
Orçada em R$ 1,8 milhões, a produção é modesta para os padrões internacionais. Mas Thiago diz que o dinheiro será suficiente para fazer um filme de primeira. As filmagens devem terminar em agosto. A montagem, em dezembro.
Com direção musical de Sergio Saraceni e canções de Carlos Lyra e Paulo Cesar Pinheiro, o filme deve ser lançado em março/abril de 1997. Para a boa realização de um filme no país, sem o guarda-chuva da Embrafilme, Thiago ressalta a importância do produtor.
No caso, da produtora Gláucia Camargos, que obteve o patrocínio de 15 empresas. "A figura do produtor precisa ser valorizada. Um filme bem administrado facilita o trabalho."

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