São Paulo, domingo, 28 de julho de 1996 |
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Cresce a cautela entre investidores
GILSON SCHWARTZ
O alívio em Wall Street no final da semana passada foi possível também porque alguns indicadores mostram uma economia menos aquecida, como a queda de 0,8% na procura por bens duráveis (frente a maio) ou a queda nas vendas de imóveis usados. Uma economia crescendo menos pode convencer o banco central americano (o Fed) a deixar as taxas de juros estáveis. Sem alta de juros, a lucratividade das empresas tende a melhorar, o que estimula os investimentos na Bolsa. Isso é o curtíssimo prazo, e os analistas não conseguem ir muito além. Um fato positivo é que, apesar da turbulência nas Bolsas nas últimas semanas, as taxas de juros de longo prazo ficaram praticamente no mesmo lugar. Ou seja, há sempre a possibilidade de a especulação com ações limitar-se ao próprio mercado, sem que de fato esteja ocorrendo uma deterioração mais fundamental das condições de crescimento das empresas. Mas a observação de fatores estruturais, que os investidores conhecem como análise "fundamentalista", sugere cautela, senão ceticismo. Fundos O noticiário econômico está naturalmente concentrado nos resultados das empresas no segundo trimestre e no horizonte até o final do ano. Mais preocupante são informações sobre os fundos de investimento, onde o entusiasmo do ano passado está desaparecendo. Ellen E. Schultz, repórter do "Wall Street Journal", compara o momento atual ao que acontece imediatamente antes de um aviãozinho de papel começar a despencar. O fluxo de recursos para fundos mútuos vem despencando nas últimas semanas. As estatísticas mais recentes, relativas a junho, são desanimadoras. O tamanho desse segmento do mercado financeiro americano é impressionante: US$ 3,2 trilhões estão depositados em fundos mútuos nos Estados Unidos. Mas para o mercado acionário interessa menos o tamanho do estoque e mais a direção do fluxo. A má notícia é que os investidores colocaram apenas US$ 14,5 bilhões em fundos de ações em junho, contra US$ 25,1 bilhões em maio. Para todos os fundos houve uma queda significativa, com entradas equivalentes a apenas 25% do que foi investido em maio. Não há, portanto, como duvidar da cautela crescente dos investidores. Para completar o clima de ansiedade, na semana passada Elaine Garzarelli, que previu o "crash" na Bolsa de Nova York em 1987, subitamente adotou uma visão mais pessimista, antecipando uma queda de até 25% com relação ao pico atingido em maio. Por enquanto, o curtíssimo prazo preocupa menos que essa mudança cumulativa de opiniões, que, no limite, altera a disposição dos investidores a correrem riscos no longo prazo. Texto Anterior: Matutagem caipira Próximo Texto: O desafio do SUS Índice |
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