São Paulo, domingo, 28 de julho de 1996
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Cresce a cautela entre investidores

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A Bolsa de Nova York fechou em alta na semana passada, estimulada principalmente por um otimismo maior com relação aos papéis de empresas do setor tecnológico. Os lucros da IBM caíram 22% no segundo trimestre (frente ao mesmo período do ano passado), mas as perspectivas são boas porque a partir de agora a base de comparação é mais baixa (o segundo semestre de 1995).
O alívio em Wall Street no final da semana passada foi possível também porque alguns indicadores mostram uma economia menos aquecida, como a queda de 0,8% na procura por bens duráveis (frente a maio) ou a queda nas vendas de imóveis usados. Uma economia crescendo menos pode convencer o banco central americano (o Fed) a deixar as taxas de juros estáveis. Sem alta de juros, a lucratividade das empresas tende a melhorar, o que estimula os investimentos na Bolsa.
Isso é o curtíssimo prazo, e os analistas não conseguem ir muito além. Um fato positivo é que, apesar da turbulência nas Bolsas nas últimas semanas, as taxas de juros de longo prazo ficaram praticamente no mesmo lugar.
Ou seja, há sempre a possibilidade de a especulação com ações limitar-se ao próprio mercado, sem que de fato esteja ocorrendo uma deterioração mais fundamental das condições de crescimento das empresas. Mas a observação de fatores estruturais, que os investidores conhecem como análise "fundamentalista", sugere cautela, senão ceticismo.
Fundos
O noticiário econômico está naturalmente concentrado nos resultados das empresas no segundo trimestre e no horizonte até o final do ano. Mais preocupante são informações sobre os fundos de investimento, onde o entusiasmo do ano passado está desaparecendo.
Ellen E. Schultz, repórter do "Wall Street Journal", compara o momento atual ao que acontece imediatamente antes de um aviãozinho de papel começar a despencar. O fluxo de recursos para fundos mútuos vem despencando nas últimas semanas. As estatísticas mais recentes, relativas a junho, são desanimadoras.
O tamanho desse segmento do mercado financeiro americano é impressionante: US$ 3,2 trilhões estão depositados em fundos mútuos nos Estados Unidos. Mas para o mercado acionário interessa menos o tamanho do estoque e mais a direção do fluxo.
A má notícia é que os investidores colocaram apenas US$ 14,5 bilhões em fundos de ações em junho, contra US$ 25,1 bilhões em maio. Para todos os fundos houve uma queda significativa, com entradas equivalentes a apenas 25% do que foi investido em maio. Não há, portanto, como duvidar da cautela crescente dos investidores.
Para completar o clima de ansiedade, na semana passada Elaine Garzarelli, que previu o "crash" na Bolsa de Nova York em 1987, subitamente adotou uma visão mais pessimista, antecipando uma queda de até 25% com relação ao pico atingido em maio.
Por enquanto, o curtíssimo prazo preocupa menos que essa mudança cumulativa de opiniões, que, no limite, altera a disposição dos investidores a correrem riscos no longo prazo.

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