São Paulo, domingo, 28 de julho de 1996
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Kiraly pede democracia na areia

MAURICIO STYCER
ENVIADO ESPECIAL A ATLANTA

Considerado o melhor jogador norte-americano de todos os tempos, Karch Kiraly disputa hoje com Kent Steffes sua terceira medalha olímpica.
Ganhador de duas medalhas de ouro no vôlei de quadra, em 1984 e 1988, Kiraly (pronuncia-se qui-rái) se aposentou em 89 e passou a se dedicar ao vôlei de praia.
Nesse esporte, tornou-se o jogador mais premiado dos EUA, acumulando mais de US$ 2 milhões.
Kiraly é hoje um crítico feroz da Federação Internacional de Vôlei, que acusa de usar métodos pouco justos na seleção dos atletas para os Jogos.
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Folha - O conflito entre a Federação Internacional de Vôlei (FIBV) e a Associação de Jogadores Profissionais dos EUA (AVP) está atrapalhando o vôlei de praia?
Karch Kiraly -O circuito da AVP existe há anos. A FIBV está usando a Olimpíada para tornar o seu circuito mais conhecido e para banir jogadores não-americanos que jogam na AVP.
Folha - Você está falando do brasileiro Loyola, por exemplo?
Kiraly - Sim. Loyola é um grande jogador e se adaptou muito bem ao nosso circuito. É uma pena que não esteja disputando os Jogos.
Folha - Qual é a sua principal crítica ao sistema de classificação?
Kiraly - Das 24 duplas masculinas que estão aqui, 22 se classificaram sem passar por seletivas em seus países. Essas 22 jogaram num sistema que permitia um máximo de três duplas por país para uma ou duas vagas. Isso não é justo.
Folha - Foi antidemocrático?
Kiraly - Não sei se foi democrático ou não. Permitir um máximo de três duplas por país está longe de ser uma seleção aberta.
Folha - Nos seus planos, você inclui disputar os Jogos de Sydney?
Kiraly- É difícil dizer, mas sem seletivas é difícil. A FIBV quer obrigar os jogadores a disputarem o circuito deles para poderem se candidatar aos Jogos, o que vai dificultar ainda mais a possibilidade de eu disputar outra Olimpíada.
Folha - O Comitê Olímpico dos EUA disse que você foi o primeiro jogador de vôlei de praia a ganhar US$ 2 milhões em prêmios...
Kiraly -Em 17 anos! Muita gente me diz: 'Ouvi dizer que você ganhou US$ 2 milhões no ano passado'. Não! Foi em 17 anos. Deu muito trabalho. Mas é verdade. Fui o primeiro, mas não serei o último.
Folha - Mas você não acha estranho falar em ganhos de US$ 2 milhões em meio a uma Olimpíada?
Kiraly - Você tem os jogadores de tênis aqui, os jogadores de futebol, os jogadores de basquete. Muitos dos atletas que estão aqui são profissionais em todos os sentidos da palavra.
Folha - Você acha hipócrita essa discussão?
Kiraly - Na minha opinião, toda a questão do amadorismo versus profissionalismo sempre foi uma vergonha. Os atletas da Grécia eram profissionais e se beneficiavam de ganhar as Olimpíadas da Antiguidade. No século passado, o amadorismo era usado para manter a classe trabalhadora longe das disputas. Hoje estamos numa situação em que se procura o melhor atleta -não importa se amador ou profissional, grande ou pequeno. É menos hipócrita.

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