São Paulo, domingo, 28 de julho de 1996
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Errei feio

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Só para contrariar os que acham (em geral corretamente) que os jornalistas somos arrogantes, confesso que errei feio na avaliação preliminar da sucessão paulistana.
Supunha que Francisco Rossi (PDT) seria cometa de uma só eleição, a de 1994, e viraria pó nesta. O Datafolha prova o contrário: Rossi permanece firme e forte nos seus 22%. Se a eleição fosse hoje, estaria no segundo turno, com Luiza Erundina (PT), desconsiderando-se a margem de erro.
Segunda prova de humildade: não consigo entender os motivos pelos quais Rossi continua com chances. Não tem partido, tanto que o PDT foi obrigado a retirar seu candidato nas três eleições paulistanas anteriores por absoluta anemia de votos.
Não tem mensagem. Difícil descobrir se é a favor ou contra o governo estadual, municipal ou federal, ponto de referência essencial para qualquer candidato.
Carisma, deve ter pelo menos algum. Mas não parece o suficiente para lhe assegurar, como até agora, uma vaga no segundo turno. Tenho apenas hipóteses sobre as razões da força, até agora, do candidato pedetista, mas todas me parecem insatisfatórias.
1) Os 22% de Rossi, no momento, se deveriam a um "recall" da campanha anterior (1994, para o governo estadual). É a tese preferida de Matinas Suzuki Jr., mas se ele -que é o chefe- não está plenamente convencido, imagine eu.
2) Um tipo de voto-castigo contra Mário Covas, que derrotou Rossi em 94, pela imagem de inoperância que seu governo passa até agora, justa ou injustamente.
3) O voto evangélico teria mais força do que supomos os leigos.
Se alguém tem outras explicações, me avise por favor.
PS - O leitor encontrará nesta edição textos deste pobre escravo procedentes de São Paulo e de Buenos Aires. Embora a Folha esteja na fase final de testes para dotar seus repórteres do dom da ubiquidade, a verdade é que os textos de São Paulo foram escritos na sexta-feira, horas antes de pegar o avião para Buenos Aires, de onde, obviamente, despacho desde ontem.

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