São Paulo, segunda-feira, 29 de julho de 1996
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Os prejuízos do BB

LUÍS NASSIF

O Banco do Brasil vai registrar brutal prejuízo no balanço do semestre, a ser divulgado hoje. E enorme lucro no balanço do final do ano. Ambos serão recebidos com a mesma surpresa, por não se estabelecer relações adequadas de causa e efeito.
Nos últimos anos, através da manipulação de balanços, o BB empurrou situação catastrófica de inadimplência, despreocupação com custos e com a rentabilidade.
Empréstimos não recebidos eram lançados como bons, gerando lucros fictícios. Em cima desses lucros, distribuíam-se dividendos e vantagens funcionais.
Desde o ano passado, o BB passou a ser submetido a drástico processo de reestruturação, na qual a limpeza de balanço é uma das facetas.
Quando um empréstimo não é pago após determinado prazo, deve ser lançado como prejuízo. Além de processo infindável de rolagem de dívidas que não seriam recebidas, o BB lançava apenas 20% dos créditos em atraso com mais de 60 dias. O restante era lançado nos 180 dias restantes, de acordo com práticas do Banco Central. Com base em estudos contratados junto à Universidade de São Paulo, o BB decidiu provisionar todos os créditos com mais de 60 dias em atraso (a exemplo de outros grandes bancos, como o Bradesco). Além disso, o BC autorizou que os prejuízos fossem alocados paulatinamente nos resultado, até o final de 1996
(Provisionar significa separar uma quantia para garantir a cobertura do empréstimo não pago. No balanço, entra como prejuízo).
A idéia de se antecipar o provisionamento teve dois objetivos. O primeiro, facilitar o controle sobre as 3 mil agências do banco. Além disso, o baque com o prejuízo obrigou a uma reavaliação dos procedimentos de concessão de créditos, levando à substituição de instâncias individuais por decisões colegiadas.
O segundo objetivo foi de ordem psicológica, para estabelecer um divisor de águas.
Os prejuízos
Ao provisionar todos os atrasos, o BB registrou prejuízo de US$ 5 bilhões. Somem-se mais US$ 3 bilhões decorrentes das mudanças cambiais do Real -que penalizaram todas as empresas que tinham investimentos no exterior.
No total, houve a necessidade de aumento de capital da ordem de US$ 8 bilhões para cobrir ambos os prejuízos. Do ano passado para cá, sobrou US$ 1,3 bilhão para ser lançado como prejuízo. A última etapa é no balanço de junho. O próximo, em dezembro, já virá limpo dos pecados do passado. Como a meta é recuperar pelo menos US$ 1,7 bilhão vai-se ter uma melhoria substancial no resultado, independentemente de outros resultados.
MPB
MPB não é olimpíadas. Mas se algum compositor merece medalha de ouro na fase atual é José Miguel Wisnick.

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