São Paulo, segunda-feira, 29 de julho de 1996
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Metallica vem ao Brasil neste verão

MARCEL PLASSE
DO ENVIADO ESPECIAL À FLÓRIDA

O dono do Metallica, como Lars Ulrich se define, falou com exclusividade à Folha no hotel em que a banda se hospedou, em West Palm Springs, Flórida, durante o festival Lollapalooza.
Como o mais falante do grupo, ele também tem perguntas: quer saber sobre as roupas com a grife Cavalera, criadas por Igor Cavalera, do Sepultura. "São caras? A moçadinha usa?"
Lars diz que a maioria do público do Lollapalooza vai atraído pela perspectiva de ver um show do Metallica.Ele adianta que a banda pretende trazer ao Brasil a turnê do novo álbum, "Load", no verão.

*
Folha - Todos sabem que Metallica é propriedade sua e de James Hetfield. Mas, dessa vez, Kirk Hammett aparece de maneira proeminente como compositor. Metallica está se tornando uma democracia?
Lars Ulrich - O que aconteceu é que Kirk melhorou como compositor, por isso suas músicas entraram em "Load". E quem manda na banda sou eu (risos)!
Folha - A participação de Kirk em edições anteriores do Lollapalooza, tocando guitarra com Ministry e Primus, ajudaram a convencer o Metallica a entrar no festival?
Lars - Não. Foram os promotores do Lollapalooza que nos procuraram. Como nunca tínhamos tocado num evento assim, decidimos ser a coisa certa a fazer. Estamos fazendo um monte de coisas pela primeira vez com "Load".
Folha - Em setembro, faz dez anos que Cliff Burton, primeiro baixista do Metallica, morreu. A banda fará algo especial?
Lars - Qual seria o sentido? Não fizemos nada para marcar os oito, os nove anos da morte de Cliff. Acho que não é por aí.
Folha - "Load" dura 78:59, apenas um segundo menos do que a capacidade máxima de um CD. A idéia era fazer um álbum duplo?
Lars - Sim. O que aconteceu é que James não terminou as letras de algumas músicas a tempo. Muitas faixas ficaram sem vocais e sem guitarras. Como fazia tempo que os fãs não ouviam músicas novas do Metallica, resolvemos lançar o que tínhamos pronto.
Folha - As músicas que ficaram de fora vão aparecer em disco?
Lars - Queremos surpreender nossos fãs com um disco novo já no ano que vem.
Folha - Por que um disco menos metálico?
Lars - A gente cansou de gravar o mesmo tipo de guitarra pesada dos discos anteriores. Além disso, ouvimos muito hard rock antigo durante as gravações, como UFO, Bad Company e ZZ Top.
Folha - É necessário mudar? Os Ramones nunca mudaram e são amados pelos fãs por isso.
Lars - É preciso respeitar os Ramones, porque eles são uma banda íntegra e uma das melhores de todos os tempos. Mas, se a gente fosse se espelhar neles, em Motorhead ou AC/DC, talvez já tivéssemos acabado, porque é muito desgastante repetir a mesma música eternamente. O que nos dá ânimo para continuar tocando é o desafio de fazer coisas novas e ousadas. Se perdermos alguns fãs, bem, ao menos ficamos satisfeitos por não embarcar numa fórmula barata.
Folha - Seus fãs são fanáticos?
Lars - Às vezes, um pouco demais. Qual é o problema se queremos cortar o cabelo? As pessoas acham que isso aconteceu durante uma semana. Mas levamos dois anos para que todos chegassem com o cabelo aparado. As pessoas se fixam muito em como a banda deve soar e parecer. Mas nós somos reais, não robôs pré-programados como uma banda de heavy.
Folha - Por que o vídeo de "Until It Sleeps" foi censurado em alguns países da América do Sul?
Lars - Foi coisa da Igreja Católica. Parece que um bispo foi à TV condenar o vídeo. Foi ótimo, porque nos ajudou a vender mais. Estamos pensando em contratar bispos no Brasil e na Argentina para fazer o mesmo. O vídeo não é muito ofensivo. Só um pouquinho.
Folha - Você gosta de Oasis?
Lars - Sim. É a banda mais rock'n'roll do momento. Os caras tem uma arrogância que não vejo há muito tempo. E isso é saudável. É preciso que alguém chute a cena, de vez em quando, dizendo: "Nós somos os melhores do mundo", para ver se alguém acorda e faz alguma coisa, como compor músicas melhores. E as músicas do Oasis são boas o suficente para os caras cantarem de galo. Adoraria brigar com os caras, quebrar um bar e depois tomar um porre com eles.
(MP)

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