São Paulo, segunda-feira, 29 de julho de 1996
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Cobertura olímpica revela provincianismo

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quem ainda estava ligado na televisão na madrugada de sábado último, soube instantaneamente do atentado "diabólico de terror" que abalou a Olimpíada de Atlanta - nas palavras do abatido presidente norte-americano Bill Clinton após a explosão da bomba.
A simultaneidade da transmissão da informação via satélite chega a ser excitante porque alimenta a sensação de pertencimento a uma aldeia global.
Mas nem a bomba no Parque do Centenário foi capaz de alterar a ênfase nacionalista da cobertura da Olimpíada.
Com raras exceções, as emissoras de televisão brasileiras limitaram-se a comentar o assunto em seus jornais, ao contrário da CNN que passou a transmitir continuamente informações sobre o assunto.
E sábado era um dia especial de glória. O Brasil x Brasil na final do vôlei de praia feminino encheu nossos locutores de júbilo.
Olimpíadas mobilizam nacionalidades. Por isso a desorganização e o terrorismo levam os americanos a se sentir tão impotentes diante do mundo.
O olhar nacional brasileiro define as estratégias televisivas para cobrir o mega-evento esportivo. Diante da multiplicidade de fatos e competições disponíveis, os destaques ficam por conta dos esportes onde o Brasil compete com alguma chance de vitória.
Ficamos orgulhosos de nossas equipes femininas no vôlei, no basquete, no futebol. E depois do extensivo relatório transmitido em todos os canais sobre o desempenho dos atletas brasileiros em esportes como natação e competições náuticas, ficamos com a sensação enganosa de que temos chance de arrasar.
Mas o contraste entre o banho de informações que recebemos sobre o desempenho dos atletas brasileiros nas diversas modalidades e a posição do Brasil no ranking mundial de medalhas é desanimador.
Apesar do fim da Guerra Fria, da crise das potências e das intenções politicamente corretíssimas expressas na abertura dos jogos, a Olimpíada de Atlanta confirma o domínio de países como Rússia, Estados Unidos, China, França e Alemanha.
Provincianismo O Brasil aparece lá embaixo. E o provincianismo da cobertura é tal que entre os primeiros colocados e o Brasil, há um meio de campo sobre o qual não sabemos nada.
Os canais a cabo especializados em esporte constituem raras exceções nesse panorama de cobertura auto-centrada.
ESPN Brasil e ESPORTV exibem uma programação alternativa. Dentre as redes de televisão aberta, Bandeirantes e Record são as que mostram maior variedade.

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