São Paulo, segunda-feira, 29 de julho de 1996
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Zapatistas fazem reunião antineoliberal

EMANUEL NERI
ENVIADO ESPECIAL A CHIAPAS

Cerca de 3.000 militantes de partidos de esquerda e de ONGs (organizações não-governamentais) de todo o mundo, inclusive do Brasil, estão participando nas montanhas mexicanas do Encontro pela Humanidade Contra o Neolibealismo.
O encontro foi convocado pelo EZLN (Exército Zapatista de Liberação Nacional), movimento guerrilheiro de base indígena que eclodiu em Chiapas, no sul do México, em janeiro de 1994. O congresso se encerra no próximo dia 4.
O Brasil está representado pelo PT, CUT e ONGs de várias áreas. Há partidos de esquerda da Austrália, França, Itália, Espanha e Argentina, além de ONGs de vários países. Daniele Mitterrand, ex-primeira dama da França, era aguardada ontem.
A pauta do encontro é ampla. Reúne desde temas como neoliberalismo, democracia, problemas indígenas, até discussões sobre a sociedade civil excluída, incluindo homossexuais, mulheres, soropositivos de HIV e toxicômanos.
Ao convocar o encontro, o "subcomandante" Marcos, chefe do EZLN, chamou o neoliberalismo de "internacional do terror". Para se contrapor a isso, quer que o congresso de Chiapas crie a "Internacional da Esperança".
O encontro tem visíveis contornos românticos. A "Internacional da Esperança", segundo comunicado do comitê clandestino do comando zapatista, terá como base "todos aqueles que preferem a humanidade viva", independente de fronteiras, idiomas, sexo e idiomas.
Mas o fato é que o encontro nos acampamentos guerrilheiros de Chiapas despertou a curiosidade internacional. Há mais de 200 jornalistas estrangeiros cobrindo o congresso. As delegações de representantes também são enormes.
Países como Itália e Espanha chegaram a mandar cada um mais de 500 delegados. Em alguns dos acampamentos guerrilheiros, o clima lembra os grandes festivais de rock dos anos 60 e 70.
As pessoas chegam carregando mochilas. O esquema de hospedagem é precário. A comida, muito simples, é feita pelos índios.
Dorme-se em sacos de dormir em acampamentos montados pelos guerrilheiros. Os banheiros, separados os dos homens e o das mulheres, são coletivos.
Se não bastasse, o "subcomandante Marcos" tentou imprimir um caráter cósmico ao congresso. Chama de "Comissão Suprema, Aleatória, Intergalática e Hipernacional" o núcleo de guerrilheiros que organizou o encontro.
A criatividade do chefe do movimento zapatista é motivo de brincadeiras. Dizem no México que o próximo encontro dos guerrilheiros será convocado por uma "comissão interasfáltica".

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