São Paulo, segunda-feira, 29 de julho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Parques são a 'praia' no verão parisiense

LUCIANA VEIT
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Desde o começo da primavera, turistas e franceses invadem diariamente os parques de Paris.
A procura por uma área verde faz parte da mesma atitude que levou saias e bermudas para as ruas no primeiro dia de sol depois do inverno. Os dias quentes deste verão (média de 27°C), em que só anoitece às 22h, são ideais para passear pelas ruas com janelas floridas e cafés com as mesas nas calçadas.
O inventário da Marie de Paris (prefeitura) traz mais de 500 áreas verdes, entre parques, jardins e praças. Os 30 jardins mais importantes são divididos em históricos, os do Segundo Império à 1930 e os contemporâneos.
A idéia de jardim como um espaço para passeio vem com o fim da Idade Média. Até então, essas áreas tinham uma função utilitária ou religiosa. Com as viagens de navegação e a descoberta de outros continentes, acontece uma transformação da flora desses jardins, que incorporam novas espécies.
No século 18, auge da monarquia, a arquitetura do jardim também funciona como símbolo do poder. Com a Revolução Francesa, esses espaços ou desaparecem ou são transformados em parques.
Um dos poucos parques respeitados pela Revolução foi o de Bagatelle, que conheceu destinos diferentes, surgiu de uma pequena casa logo transformada em castelo, tornou-se restaurante em 1797 e depois local de caça de Napoleão.
Em 1905 foi construída a "roserie", com nove mil roseiras.
Nos meses de junho e julho, com a florada, é a área mais bonita do parque. O passeio pelo Bagatelle é dos mais agradáveis, com seu lago coberto por ninfeáceas, além de cisnes e marrecos, grandes gramados e um restaurante e café com terraço envidraçado.
Já no Segundo Império, com as reformas urbanas feitas pelo barão Haussmann a comando de Napoleão 3º, os jardins são pensados como local de recreação. É quando são criados parques como o Buttes-Chaumont e o Montsouris.
Com a absorção das então vilas de Belleville e La Villete, Napoleão 3º cria o Buttes-Chaumont, (nome que vem de "mont-chauve", monte calvo), um resquício barroco do Segundo Império.
Inaugurado depois da Exposição Universal de 1867, o parque se divide em 5 km de atalhos e alamedas. Um grande lago, atravessado por uma ponte, uma gruta e sua cascata dão o ar de grandiosidade.
Ao lado dele, o Montsouris parece modesto. Planejado por Haussmann para ser um dos espaços verdes dos quatro pontos cardeais de Paris (no caso, o do sul), soube acolher, sem grandes perdas, um estação de RER (linha de metrô).
O parque fica na frente da cidade universitária e tem três grandes gramados onde não são proibidos andar ou fazer piquenique.
Mas a preocupação em preservar o verde vai além das grandes superfícies. Uma praça como a Square René-Viviani é destacada como um dos jardins a serem visitados.
Na altura da Notre-Dame, mas na margem esquerda do Sena, a praça foi homenageada em 1921 pelos surrealistas André Breton, Louis Aragon e Paul Elouard, que partiam para "visitas insólitas" em busca de uma poética urbana.
Pequena, a praça foi criada para preservar a igreja de Saint-Julien-le-Pauvre e a perspectiva da catedral de Notre-Dame, que, como tem a fachada em reforma, pode ser melhor vista da praça.
A pequena igreja, de 1170, é das mais antigas de Paris. Tão preservada e documentada quanto ela, há na praça uma árvore (robinier), trazida da América em 1601.
Arquitetura
Quem quiser escapar dessa volta ao passado, deve ir até um dos parques contemporâneos. O André-Citro‰n é tido como um parque futurista e mistura água, vidro e pedra em seus jardins.
Há, por exemplo, o jardim branco, o preto, o dos minerais -com plantas em tons de ouro ou cobre-, o jardim em movimento e o de rochas. Nos dias mais quentes, a sua fonte, formada por 72 pequenos jatos e criada por Alain Provost, é invadida pelas crianças.

Onde fica: Bagatelle (Bois de Boulogne, estrada de Sevres à Neuilly, metrô Porte Maillot mais ônibus 244 ou 243); Buttes-Chaumont (r. Botzaris, metrô Buttes Chaumont); Montsouris (bulevar Jourdan, avenida Reille, RER Cite Universitaire); Square René-Viviani (25, quai de Montebello, metrô Maubert-Mutualite); André- Citro‰n (quai Andre-Citro‰n, metrô Place Balard).

Texto Anterior: Vanguarda escolheu Paris como moradia
Próximo Texto: Prefeitura organiza os passeios
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.