São Paulo, terça-feira, 30 de julho de 1996
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Lobby militar tenta barrar favorecimento a Lamarca

Forças Armadas querem evitar que FHC autorize indenização

SÔNIA MOSSRI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os militares vão pressionar o presidente Fernando Henrique Cardoso a não assinar decreto reconhecendo a responsabilidade do Estado pela morte do guerrilheiro Carlos Lamarca.
As Forças Armadas avaliam que a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos deverá afirmar essa responsabilidade.
Segundo a legislação atual, o reconhecimento do Estado somente se torna oficial, incluindo o pagamento da respectiva indenização, depois da publicação de decreto de Fernando Henrique Cardoso no "Diário Oficial" da União.
A pressão militar, no entanto, não deve ter resultado. Acordo firmado com a comissão estabelece que o decreto presidencial segue rigorosamente o que é definido pela comissão, que se reúne na quinta para começar a discutir os casos Lamarca e Carlos Marighella.
A comissão tem sete membros. A Folha apurou que, até agora, quatro votos já estão definidos.
O general Oswaldo Pereira Gomes, representante das Forças Armadas na comissão do Ministério da Justiça, e Paulo Gustavo Gonet Branco, do Ministério Público Federal, são contrários ao reconhecimento da responsabilidade do Estado pela morte de Lamarca.
Já o deputado Nilmário Miranda (PT-MG) e Suzana Keniger Lisboa, da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, são favoráveis ao reconhecimento.
A decisão vai depender dos votos dos advogados Miguel Reale Jr. e Luís Francisco Carvalho Filho e do representante do Itamaraty, João Grandino Rodas.
Local
Um dos principais pontos que será levado em conta pelos representantes da comissão na análise dos casos Lamarca e Marighella é o fato de a morte de ambos não ter ocorrida em local fechado.
Marighella, dirigente da Ação Libertadora Nacional (ALN), foi morto em um cerco policial ocorrido na região dos Jardins (zona sul de São Paulo), em 1969.
Lamarca era capitão do Exército e desertou para aderir à luta armada. Integrou o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8).
Laudo cadavérico da Polícia Federal revelou que ele foi morto, em 1971, no interior da Bahia, enquanto dormia após fugir de uma caçada policial.
O general Pereira Gomes disse à Folha que Lamarca morreu ao ser "surpreendido dormindo" pelos militares.
Segundo ele, havia uma guerrilha e "certamente" o guerrilheiro reagiria atirando se tivesse tempo para isso.

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