São Paulo, terça-feira, 30 de julho de 1996
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Sophie Calle trabalha a experiência emocional

DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de dois meses de exibição em Paris, "No Sex Last Night", primeiro filme da fotógrafa e artista francesa Sophie Calle, será exibido em setembro na Palestina, um dos destaques de um festival da semana de cultura francesa que acontecerá no Oriente Médio.
Enquanto seus colegas documentam e vendem um verdadeiro show de aberrações, Calle faz de sua experiência emocional, sua desilusão, um tema.
"Para conquistar um homem, falei que gostaria de realizar um filme", disse Calle à Folha. O homem era Greg Shepard, um americano que ela havia encontrado em Nova York.
Calle se apaixona e o convida para uma viagem pela América. Cada um deles segura uma câmera VHS. O trato é gravar um ao outro, as reações, as falas, os motéis e os banheiros de beira de estrada.
Partem no dia em que Sophie sabe da morte de seu amigo, o escritor Hervé Guibert, vitimado pelas doenças oportunistas que invadem o corpo de um portador do HIV: "Tudo que está em 'No Sex Last Night' é rigorosamente verdade. Não há falsificações".
A cada momento do filme, montado por meio de "stills", imagens congeladas, Calle carrega a esperança de uma conquista.
O casal pára em um motel, a câmera de um deles mostra ao público uma cama desarrumada e ela comenta "no sex last night" ('sem sexo na noite passada'). Uma cena que se repete ao longo do filme.
Artista incomum, Sophie Calle já seguiu um desconhecido pelas ruas de Veneza para fotografar os pequenos acontecimentos de sua vida.
E também se empregou em um hotel como arrumadeira, entre tantas atitudes em nome de sua arte, a fim de registrar os objetos de cada hóspede.
Na França, é reconhecida como uma das mais interessantes atrizes surgidas nas últimas décadas. Seu trabalho não se enquadra em nenhuma das categorias usadas para enquadrar uma artista.
As obras de Sophie Calle rapidamente migram da performance para o estudo sociológico ou a exibição de fotografia.
Transformada em personagem pelo escritor americano Paul Auster (ela é a estranha fotógrafa do romance "Leviatã"), Calle tenta colocar um humanidade onde vários de seus companheiros exibem apenas, por muitas vezes, atos gratuitos em nome de uma felicidade financeira.
Autobiografia exibicionista, "No Sex Last Night" termina em desencanto.
Sua tentativa de conquista amorosa falha, mas ela consegue se casar com o objeto de sua paixão em um drive-in em Las Vegas. Uma das mais engraçadas e constrangedoras cenas do filme.
"Greg e eu editamos o vídeo juntos, depois o convertemos para o formato de 35 mm. Aprendemos a conviver com o projeto."
Calle diz que pretende mostrar seu trabalho para o maior número de pessoas possível. Mas não pensa em um novo filme: "No momento não estou saindo com ninguém".

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