São Paulo, terça-feira, 30 de julho de 1996
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VIOLÊNCIA DOENTIA

Além da covardia e da estupidez surda de quem quer que tenha colocado a bomba que matou duas pessoas e feriu outras 111 no parque Centenário, em Atlanta, o que impressiona e horroriza nesse crime é a gratuidade da violência. Por mais que tensões sociais possam constituir solo fértil para atos doentios como o da madrugada de sábado, é inegável que as sociedades atuais precisam repensar, de modo geral, a maneira de lidar com a violência.
Ainda que as investigações possam vir a identificar algum grupo político como autor do crime, não há como ignorar que a explosão de uma bomba caseira visando a atingir o público indiscriminadamente em meio ao parque olímpico remete à enorme cultura da violência existente nos EUA, e, em diferentes medidas, em quase todas as sociedades.
Antes mesmo das primeiras noções do idioma escrito ou da matemática, meninos e meninas que assistam normalmente à televisão já aprenderam que é possível, por exemplo, cortar a cabeça do coleguinha com uma faca elétrica.
A julgar pelos índices de homicídios, assaltos e incêndios criminosos nas grandes cidades do globo, devem existir enormes equívocos na idéia de que cada um pode garantir sua segurança por conta própria -armando-se cada vez mais.
Durante a Guerra Fria, o mundo conheceu atos terroristas de grupos envolvidos em disputas étnicas, territoriais ou ideológicas. À medida que a violência passa a ser difusa e sem objetivo compreensível, porém, mostra-se insuficiente, se não ineficaz, promover a escalada dos aparatos de segurança. Em vez de apenas multiplicar a ação repressiva, é preciso encontrar maneiras de reduzir a produção diária de brutalidade.
Não há sistema de segurança eficaz contra criminosos desequilibrados e dispersos como "serial-killers", "Unabombers" ou extremistas de extrema-direita como os que explodiram, em abril de 95, o prédio federal de Oklahoma City, e a creche que lá se encontrava, em nome do bizarro direito de possuir armamentos e da oposição, não ao governo, mas à existência do Estado americano.
Uma época em que, para reduzir os níveis de violência, chega-se a instituir, em tempos de paz, um toque de recolher permanente para os jovens -como fez, com sucesso, a cidade de Washington- só pode ter fracassado em muito aspectos da formação de seus cidadãos.

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