São Paulo, terça-feira, 30 de julho de 1996
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SEGREDO CAPITALISTA

A crise dos bancos brasileiros, embora tenha dimensões predominantemente locais, coincide com crises em outros países.
Mas apenas um aspecto é comum a todos os casos: a atuação dos bancos centrais como emprestadores de última instância, garantidores da liquidez e da solvência das instituições, ainda que muitas vezes à custa dos Tesouros Nacionais e com perplexidade crescente dos cidadãos.
Os bancos centrais podem ser mais ou menos independentes dos Tesouros, mas nos momentos de crise fica evidente algo apenas implícito num cotidiano de normalidade: a dependência radical dos bancos com relação ao banco central.
Esse conceito não é fácil de assimilar. Quando se diz que "banco grande não quebra" ou quando os críticos se transformam em "engenheiros de obras feitas", há uma sugestão de que o governo "protege" os bancos em detrimento da sociedade.
Apenas uma transparência extrema, ainda que sujeita às cautelas inevitáveis do sigilo bancário, pode pelo menos reduzir o desgaste de credibilidade que acompanha a atuação "salvadora" dos bancos centrais. E é precisamente o que mais tem faltado ao Banco Central do Brasil desde que foi lançado o Proer.
É aliás urgente diferenciar, nas operações do BC, o que é uma justa proteção a correntistas de tudo o que sequer sugira uma inaceitável premiação à incúria e à má-fé de acionistas majoritários irresponsáveis.
É também fundamental que as autoridades monetárias saibam dar mostras de que o sistema de regulamentação e supervisão é aperfeiçoado, de tal sorte que os desequilíbrios possam ser identificados o quanto antes e, portanto, minimizados os custos sociais dos créditos concedidos "em última instância".
A crise bancária revela um segredo curioso do capitalismo: no coração do sistema econômico percebe-se que o mecanismo do crédito, afinal, é um mecanismo eminentemente social. Os bancos centrais, portanto, agem com base num mandato tão sujeito à legitimação quanto outras agências ou instituições públicas.
Ignorar esse "segredo" pode ser fatal para o próprio sucesso dos programas de saneamento financeiro.

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