São Paulo, quarta-feira, 31 de julho de 1996 |
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O tabu ruiu
CLÓVIS ROSSI Buenos Aires - No fundo, o sonho dos argentinos, nas ruas e nos gabinetes, é manter o dólar cotado rigidamente a um peso e, mesmo assim, voltar a crescer explosivamente como no período 91/94.As chances são no mínimo remotas. Boa parte do crescimento anterior se deveu a um enorme ingresso de investimentos externos. Entre 90 e 93, entraram cerca de US$ 24,5 bilhões, o terceiro maior fluxo entre os mercados ditos emergentes, após México e China. Não está no horizonte a repetição dessa situação, por um punhado de fatores. Entre eles, o fator Brasil. Enquanto a economia brasileira era um caos, os investimentos externos procuravam na América do Sul qualquer outra oportunidade de negócios disponível e mais atraente. A partir do instante em que ocorre a estabilização, com o Plano Real (julho de 1994, convém lembrar), o Brasil torna-se inevitavelmente a maior atração para quem quer investir na América Latina. Não é apenas pelos belos olhos e boas palavras do presidente Fernando Henrique Cardoso. Um mercado de 160 milhões de pessoas, por maior que seja o número de marginalizados, é sempre um ímã poderoso. Mais ainda, na comparação com a Argentina, quando se sabe que as privatizações e/ou parcerias com o setor privado ainda estão em andamento, ao passo que os argentinos já liquidaram praticamente todo o setor estatal. Tudo indica, portanto, que a Argentina terá, cedo ou tarde, que abandonar uma das duas partes de seu sonho. Ou a paridade cambial ou o crescimento, pelo menos um crescimento suficiente para apagar o mal-estar que até Domingo Cavallo admite haver hoje. Ao contrário do que acontecia até muito recentemente, a hipótese de abandono da paridade já entrou na agenda. Na eleição presidencial de 95, nem a oposição ousava tocar no assunto. Hoje, há economistas respeitados que não só tocam no tema como dão a paridade rígida como "esgotada" (Rogélio Frigério) ou "irrecuperável" (Eduardo Curia). Texto Anterior: DESCASO E IMPUNIDADE Próximo Texto: Falsa calmaria argentina Índice |
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