São Paulo, quarta-feira, 31 de julho de 1996
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Falsa calmaria argentina

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - É errado concluir que apenas o movimento dos mercados de valores argentino e brasileiro seja um indicador sólido sobre a suposta calmaria depois da queda do ministro Domingo Cavallo.
Um experiente analista de mercado disse ontem uma frase que resume um pouco o que é a Bolsa de Valores de Buenos Aires: "O índice Merval é facilmente manipulável. Com qualquer US$ 50 milhões você mexe completamente no resultado do mercado".
O que esse analista quis dizer é que as altas da Bolsa de Valores de Buenos Aires podem muito bem ter sido manipuladas pelo próprio governo argentino: "O governo deles jamais deixaria aparecer mais um indicador negativo no meio desse tiroteio".
Outro mercado importante também teve ontem "demanda de compradores argentinos". Foi o comércio de dívida externa. Isso jogou para cima os títulos da Argentina. No vácuo, subiram os do Brasil e os do México.
Um dos principais papéis de dívida externa é o chamado bônus ao par. Argentina, Brasil e México têm títulos desse tipo. Ontem, em relação a anteontem, tiveram uma alta de 2,43%, 1,16% e 0,78%, respectivamente.
É realmente difícil de acreditar que a situação na Argentina esteja tão estável a ponto de um de seus títulos se valorizar 2,43% em apenas um dia. Parece um pouco óbvio que houve alguma manipulação de mercado.
A manipulação fica clara quando se observa a variação dos preços de bônus ao par ao longo deste ano.
De janeiro para cá, o papel argentino, mesmo com a valorização de ontem, perdeu 9,05% do seu valor no mercado secundário. O do México teve queda de 3,75%. O brasileiro ficou apenas com o nariz fora d'água, registrando uma valorização de 1,17%.
Como se vê, a situação da Argentina não é esse conto de fadas que os mercados tentam nos passar.
Podem vir chuvas e trovoadas mais adiante. Para o governo FHC, o risco é que os pingos dessa tempestade caiam por aqui justamente em outubro e novembro, no período eleitoral.

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