São Paulo, quinta-feira, 1 de agosto de 1996
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O Banco do Brasil e os outros bancos

ALOYSIO BIONDI

Outra vez, lucros astronômicos. A publicação dos primeiros balanços relativos ao primeiro semestre do ano mostra que os bancos privados, grandes ou pequenos, obtiveram lucros equivalentes a 10% a 20% do patrimônio líquido, vale dizer, de 20% a 40% ao ano. Isto é, de 400% a 800% da média mundial do setor.
Explicação de diretores desses bancos para os resultados: melhora violenta no pagamento de dívidas por parte dos clientes.
Um grande banco diz ter conseguido receber R$ 1 bilhão em créditos "atrasados". Um banco médio diz que a inadimplência caiu de 12%, no segundo semestre de 1995, para 4% neste primeiro semestre de 96.
Tudo histórias da carochinha. Na verdade, os bancos "esconderam" parte dos seus magníficos lucros de 1995, falseando os balanços. Como?
As regras do Banco Central prevêem que as dívidas com atraso superior a 60 dias, em seu pagamento, podem ser parcialmente (20%) consideradas como "prejuízo", no balanço.
Fugindo das normas do BC, os bancos lançaram como prejuízos não os 20%, mas 100% das dívidas -e, conforme declarações de diretores na época, até com "um dia de atraso"...
Com a estratégia de lançar prejuízos inexistentes, os balanços apresentaram lucros muito menores que os reais em 1995.
Qual a vantagem para os bancos? Não só adiar o pagamento do Imposto de Renda, mas reduzi-lo definitivamente, apropriando-se de dinheiro pertencente ao Tesouro. Como assim?
Os bancos sabiam que, em 1996, à medida que aquelas dívidas fossem sendo pagas pelos clientes, teriam que registrá-las nos balanços, aumentando os lucros e o imposto.
Mas sabiam também que o Imposto de Renda em 1996 seria menor, de 25%, contra 35% em 1995, graças a "reformas" promovidas pelo governo.
Cálculos da própria Receita Federal mostram que, com a jogada, os bancos reduziram seu IR em algo como R$ 500 milhões. Sonegação planejada.
O prejuízo de R$ 7,8 bilhões para o Banco do Brasil, inventado pela equipe FHC/BNDES, é uma repetição da estratégia adotada em 1995 pelos bancos privados. Incrivelmente, até créditos que nem sequer venceram, isto é, não estão atrasados, foram lançados como "prejuízos" (nada menos que R$ 1,7 bilhão).
No caso, não haverá redução do IR. O objetivo é outro: à medida que os créditos forem sendo recebidos, os prejuízos (no papel) irão transfomar-se em lucros, criando a imagem de "salvadores da Pátria" para a equipe FHC.
Resta saber se os terríveis prejuízos causados à reputação do Banco do Brasil serão recuperáveis. Com o reforço do capital do BB, ele poderia ampliar seus empréstimos a clientes em nada menos que R$ 12 bilhões. Lucrar mais.
No entanto, a equipe FHC/BNDES diz que, "por cautela", só emprestará mais R$ 1,5 bilhão.
Mistério
No semestre, o volume de empréstimos do Banco do Brasil caiu de R$ 32,2 bilhões para R$ 30,7 bilhões. Menos R$ 1,5 bilhão. Cautela?
Surpresa
Com milhares de agências e postos de atendimento, o BB, obviamente, tem uma situação privilegiada para a venda de serviços a vastíssima clientela.
No entanto, todas as coligadas do BB têm queda violenta nos negócios -e nos lucros, com a equipe FHC/BNDES.
Charada
Na comparação com o último semestre de 1994, eis os resultados das coligadas do BB, em termos de lucros: distribuidora de títulos, de R$ 74 milhões para R$ 13 milhões; cartão de crédito, de R$ 46 milhões para R$ 15 milhões; corretora, de R$ 18 milhões para R$ 2,2 milhões; leasing, R$ 12 milhões de lucro e R$ 38 milhões de prejuízo.
Foguetório
A equipe FHC/BNDES está sendo elogiada pela "coragem de mostrar a real situação do BB". Acusam-se diretorias anteriores de "enfeitar" balanços. O oposto da verdade. A equipe FHC é que está "sujando" os balanços, driblando as próprias regras do BC -que as outras diretorias respeitavam.

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