São Paulo, quinta-feira, 1 de agosto de 1996
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Faltaram tática, caráter e futebol ao time

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, a seleção brasileira de futebol masculino estava com o jogo ganho. Ganho fartamente.
Mas, em toda a competição, não se sabe a razão, faltou, junto como uma melhor formatação tática, caráter (mas não faltou arrogância) a este time do velho Lobo.
Um caráter que, ou nasce de um orgulho profundo, como o mostrado pelos nigerianos, ou de uma autoconfiança, que não houve no próprio futebol.
O retrospecto na Olimpíada não recomendava a medalha de ouro para a seleção brasileira. Perdeu para o Japão, ganhou mal da Nigéria, quase perde de Gana.
Faltou preparo físico. Faltou conjunto. Faltou posicionamento à defesa, mas este era o problema mais conhecido da preparação.
Faltou futebol a Rivaldo, a Roberto Carlos, a Zé Maria. Aldair estava superado. Dida sentiu a responsabilidade. Bebeto, que deveria ser o grande líder, foi apenas OK.
Jogaríamos no 4-3-1-2. Recuamos para o 4-4-2. E, ontem, com três volantes. Como se vê, não falta explicação para o vexame histórico.
*
Alguns nada contra, mas... e um tudo contra:
1) Nada contra a Olimpíada no Rio que, confirmado, será a mais bela cidade que hospedou os Jogos Olímpicos. Mas pedir aos cofres públicos, que acumulam uma dívida de R$ 150 bilhões, para botarem do seu no empreendimento é um pouco demais, némesmo?.
O correto seria o Estado do Rio de Janeiro e a cidade do Rio de Janeiro encontrarem maneiras de atrair patrocinadores privados para bancar o evento e bicar o lucro.
Pedir a um Estado, que se diz quebrado para investir na educação, na saúde etc., que entre com seu dinheiro para realizar uma Olimpíada no Brasil é, no momento, descabido e fora de hora.
2) Nada contra uma política nacional que dê apoio ao esporte. Mas querer que haja incentivo fiscal para empresas que patrocinam o esporte, em um momento de reforma fiscal e tributária de um Estado quebrado e de uma Nação com má distribuição de renda, devida em parte pelas distorções fiscais, é um acinte público.
Os advogados da idéia dizem que, se a cultura tem, o esporte também deveria ter. O Alberto Helena Jr. já se encarregou de mostrar as diferenças entre uma questão e a outra. Mas, cá entre nós, até os incentivos para a cultura deveriam ser melhor discutidos neste país.
3) Nada contra o pavilhão nacional, é claro. Mas, este negócio de atleta brasileiro subir ao pódio com a bandeira brasileira está cheirando armação de dirigente para sensibilizar o país para conseguir mais verba e mais poder para os esportes.
Patriotismo não se mede pelo número de bandeiras.
4) Nada contra a religião, é claro. Mas esse negócio de jogador brasileiro benzer-se quando entra e sai de campo, quando marca ou perde gol, quando chuta ou não chuta a bola, mais do que acentuar uma religiosidade profunda, torna banal o seu significado.
Além disso, parece que neste país tudo sempre será obra de Deus, já que os homens não confiam no seu próprio taco.
6) Tudo contra empresas estatais patrocinarem o esporte.
É escandaloso que um banco que apresenta um prejuízo de R$ 8 bilhões (em qualquer país do mundo ele seria imediatamente fechado) esteja aí, pela mídia, falando uma baboseira do tipo o brasileiro é o melhor torcedor do mundo etc.
O que o cidadão brasileiro quer é que o Banco do Brasil pare de fazer farra com o dinheiro do contribuinte. É só e já é muito.

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