São Paulo, quinta-feira, 1 de agosto de 1996
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Philip Glass ajuda a promover brasileiro

PATRICIA DECIA
DE NOVA YORK

Na última terça-feira, ele tocou piano acompanhando o brasileiro Ticco da Costa -que nasceu no Rio Grande do Norte e toca ciranda nordestina com técnica de música clássica- em um show na Knitting Factory, em Nova York.
Glass está lançando e ajudando a promover a música de Costa nos Estados Unidos. O show, que teve participação de dois rappers, um do Zimbábue e outro da Austrália, vai virar disco ao vivo e deve ser lançado no Brasil.
O "inventor do minimalismo", que já morou no Tibete, gravou vários discos com o músico indiano Ravi Shankar e viaja todos os verões para o Brasil "como os pássaros, fugindo da neve", está escrevendo sua 15ª ópera.
Em entrevista à Folha, ele fala da música de Costa, de seus novos e antigos projetos e critica a abertura da Olimpíada de Atlanta, que tinha músicas suas.
*
Folha - Você acompanhou Ticco da Costa ao piano, como surgiu a idéia?
Glass - Bom, ele me pediu (risos). Mas realmente não é comum acompanhar alguém. Na verdade, essa foi uma maneira de promover o Ticco. Quando digo que estou interessado em um tipo de música, as pessoas podem ficar um pouco mais interessadas.
Folha - Como você o conheceu?
Glass - Fui ao Brasil em 86, fazer pesquisa para o filme Powaqqatsi. Queria conhecer melhor a música brasileira e precisava de um guia. Então o Ticco acabou sendo contatado e me levou à Amazônia, Belém e outros lugares.
Folha -O que o atraiu na música de Ticco?
Glass - O que é preciso saber sobre a música de Ticco é que há uma técnica muito sofisticada e, ao mesmo tempo, as músicas são espontâneas. A segunda coisa é que as letras são muito poéticas.
Folha - Você escreveu parte das músicas para a abertura da Olimpíada de Atlanta. O que achou do resultado final?
Glass - Achei que ficou tão besta, como um todo. Eu também fiz a música para a abertura dos Jogos de Los Angeles, onde se esperava algo muito Hollywood, o que se concretizou e acabou ficando legal. Mas dessa vez... (risos)
Folha - Você está sempre envolvido em vários projetos. Quais são os últimos?
Glass - Estou escrevendo minha 15ª ópera, em alemão. Também estou trabalhando na trilha sonora do novo filme de Martin Scorsese, uma biografia sobre o Dalai Lama. Fiz ainda uma canção para Mick Jagger e nós gravamos juntos, na Inglaterra, há duas semanas. É para um filme inglês chamado "Bent". Na verdade, quando comecei a compor, nem sabia que Mick estava envolvido.
Folha - Como foi trabalhar com Mick Jagger?
Glass - Gostei dele. Nós temos mais ou menos a mesma idade. Ele sabe como trabalhar no estúdio. Quando você trabalha com alguém, você percebe o que essa pessoa pode fazer. Ele tem um ótimo comando de sua voz. É claro que sempre soa como Mick Jagger (risos), mas ele desenvolveu esse tipo de estilo. É minha música, mas é ele quem canta.
Folha - Você diria que Nova York é a capital da música?
Glass - Com certeza. Por exemplo, nesse trabalho para o filme de Scorsese, eu estava preparando uma fita demo para que ele ouvisse primeiro. Para isso, precisava de uma série de músicos e os encontrei facilmente. Brasileiros, indianos, africanos, estão todos aqui, e os bons também.
Folha - Você gosta de compor para filmes?
Glass - Na verdade, eu prefiro teatro, mas acabo fazendo música para uns dois filmes por ano. No ano passado fiz a trilha de "Jenipapo", da Monique Gardenberg. Mas meu trabalho é suficiente para sustentar meu estúdio e as pessoas que trabalham lá. Há mais dinheiro nos filmes, se bem que trabalho mais para filmes de arte. Eu gosto mesmo é de escrever óperas.

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