São Paulo, quinta-feira, 1 de agosto de 1996
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Chico lê trecho de 'Benjamim' no Rio

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

Bem-humorado, solícito com a platéia, o compositor Chico Buarque de Hollanda falou na terça-feira à noite de um tema que o tem atraído cada vez mais nos últimos anos: o seu trabalho de escritor.
Convidado do programa "Rodas de Leitura", coordenado por Suzana Vargas no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), no Rio, Chico leu trecho de seu último livro "Benjamim" e relatou o quanto é difícil escrever um romance.
Um processo extenuante, trabalhoso, que ele só conseguia começar, diariamente, após ficar jogando paciência "uma hora" em seu computador. Fechava então o jogo, escrevia cinco minutos e voltava para as cartas.
Uma rotina que durou 13 meses, até conseguir entregar os originais de "Benjamim" para a Companhia das Letras. A data de entrega do romance foi outro parto. "A hora do ponto final é terrível."
Enquanto o ponto final não vinha, Chico Buarque relia e relia seu livro. "Cada vez que lia, nem que fosse uma vírgula, saía do lugar. Cada vez que lia, o romance ficava menor", disse.
Mas, apesar do ato "penoso" de escrever, a etapa de reler o que escreveu é o que mais atrai o músico a se transformar em romancista.
"Escrever pra mim é muito chato. Eu gosto de fazer música. Eu escrevo pra ler. Juro: ninguém vai poder gostar tanto do livro quanto eu quando o relia", afirmou.
A exemplo de seu "Estorvo" (1991), Chico disse que "Benjamim" (1995) é uma experiência de linguagem, um passeio pela cadência do texto, "mais do que um roteiro, uma história linear".
Uma "espécie de quebra-cabeças" que ele jura não ter ficado maçante. "Não é um texto chato, mas reconheço que não é uma leitura fácil", assinalou.
Com seu charme de pessoa tímida, usando óculos que lhe davam um ar de intelectual, a todo momento ele provocava risos e aplausos da atenta platéia que lotou o teatro nº 1 do CCBB.
Na platéia, no térreo, cerca de 230 pessoas assistiam às respostas de Chico que eram encaminhadas por escrito. No terceiro andar, cerca de 120 pessoas o viam em telão.
Chico político
Algumas perguntas cobravam do escritor Chico o seu lado político, de homem de esquerda, famoso por combater o regime militar com músicas antológicas como "Apesar de Você".
Chico -que já escreveu "Fazenda Modelo" (1974), uma parábola em que critica o autoritarismo do regime militar e a censura- diz que no país de hoje não acredita mais na utilidade, na eficácia política de um romance.
Em sua atual fase, diz que sua escrita traz sempre presente a realidade social, mas sem proselitismos ou posições políticas pessoais.
"Em momento algum eu me coloco ideologicamente nesse livro."
Mais perguntas cobravam o Chico político. E ele devolvia que, na época do regime militar, tinha vontade de "derrubar o governo". Hoje, apesar das críticas que faz ao governo FHC, ele não pode ser "tão incisivo".
Ao final, depois de uma hora e meia de debate, parte da platéia não se conteve e correu para cercar o ídolo, pedindo seu autógrafo em exemplares de livros e posando ao lado do compositor para fotos.
"Ah, deu taquicardia", disse a enfermeira Cristina Queiroz, 25, minutos após posar ao lado de Chico. "Gostei das respostas. Achei ele muito amistoso."

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