São Paulo, sexta-feira, 2 de agosto de 1996
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Para advogado, falta "vontade política"

DA REPORTAGEM LOCAL

Miguel Vulcano, advogado do físico Rogério Cézar de Cerqueira Leite, disse que "falta vontade política" do Estado para resolver a questão dos sem-terra no Pontal.
"Existem 3.000 famílias acampadas na região. As terras do professor, que oferecemos a preço de banana, são suficientes para o assentamento de 6.000 famílias."
Cerqueira Leite autorizou anteontem a desapropriação de 40 mil alqueires de terras no Pontal em troca de um pagamento 30% inferior ao valor a ser estipulado por perícia judicial.
A proposta prevê ainda que 5% do valor das terras seja destinado à Cooperativa de Comercialização e Prestação de Serviços dos Assentados da Reforma Agrária do Pontal para a construção de moradias e compra de material.
"Se o governador Covas ficar falando bobagem, por intermédio do secretário da Justiça (Belisário dos Santos Júnior), vai perder a chance de iniciar a reforma agrária", afirmou o advogado.
Vulcano negou que tenha se encontrado anteontem com o secretário. Disse que ambos se reuniram há dois meses, quando foi declarada a intenção do físico de "ajudar" na questão agrária.
"Os cartórios de registro de imóveis da região revelam que as terras são do avô de meu cliente. Deveriam desapropriar logo e entregar para os sem-terra", disse.
Belisário declarou que, pelas indicações "aproximadas" de Vulcano no encontro de "meses atrás", os alqueires oferecidos por Cerqueira Leite estariam em áreas de terras pertencentes ao Estado.
"Não vamos comprar algo que já é nosso e está ocupado. Tenho de defender os interesses do Estado. Ele (o advogado) quer fazer um bom negócio."
O secretário explicou que as negociações envolvendo terras na região estão sendo feitas somente com aqueles que têm uma "relação física com o terreno".
"O que eles oferecem, eu não estou pagando a ninguém", disse. "Negociamos com quem está na terra, e o professor não está lá."
"Se negociarem com eles, vão ter de pagar duas vezes: uma para eles e outra para meu cliente, que é o proprietário."
Em sua avaliação, o Estado reluta em aceitar a proposta por "dor de cotovelo". "Eles queriam ser o pai da criança. Mas ou eles resolvem isso, ou vão ter uma confusão por lá. Ninguém segura a revolução do estômago", disse, referindo-se a um possível descontentamento dos sem-terra.

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