São Paulo, sexta-feira, 2 de agosto de 1996
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Entidades querem incluir vítima de passeata

LUCAS FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Após o julgamento dos pedidos de indenização para as famílias dos guerrilheiros Carlos Marighella e Carlos Lamarca, a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos vai enfrentar um outro tema polêmico.
Os grupos Tortura Nunca Mais de Goiás e de São Paulo, a UNE (União Nacional dos Estudantes) e a Ubes (União Nacional dos Estudantes Secundaristas) estão pressionando a comissão para aprovar a indenização para 12 famílias de vítimas em passeatas realizadas durante o regime militar.
As quatro entidades já recolheram cerca de mil assinaturas em todo o país, inclusive a do arcebispo de São Paulo, d. Paulo Evaristo Arns. O abaixo-assinado será entregue à comissão ainda este mês.
Entre os 12 processos que serão julgados, está o de Edson Luiz Lima Souto, estudante secundarista morto por policiais, em 68, durante manifestação pela melhoria da comida no restaurante estudantil Calabouço, no Rio de Janeiro.
Os demais processos se referem a nove estudantes, um lavador de carros e um operário, todos mortos em passeatas e manifestações políticas realizadas entre 64 e 79.
Assim como nos casos Marighella e Lamarca, esses 12 processos levantam a polêmica sobre o local onde ocorreram as mortes. A lei 9.140/95 limita a concessão de indenizações aos casos cujas mortes tenham ocorrido em "dependência policial ou assemelhada".
"Quando uma praça pública é cercada por tropas da Polícia Militar, ela se torna um local assemelhado a uma delegacia. Isso torna essas mortes passíveis de ser enquadradas na lei", afirmou o presidente do grupo Tortura Nunca Mais de Goiás, Waldomiro Batista.
A intenção do abaixo-assinado é apressar o julgamento desses 12 processos, ainda sem data marcada para ocorrer.
A mãe de Edson Luiz, Maria de Belém Souto Rocha, 73, viajou de Belém (PA), onde mora, para Brasília para acompanhar o julgamento dos casos Lamarca e Marighella.
"Meu filho foi morto porque queria melhorar a comida e o governo não queria. Sou pobre. Se não me indenizarem, será muita ruindade", afirmou Maria de Belém. "Não é cristão quem mata para vencer na vida."

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