São Paulo, sexta-feira, 2 de agosto de 1996
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Viúva e general discutem à saída

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O anúncio da suspensão do julgamento dos pedidos de indenização desagradou a família de Carlos Marighella. Clara Charf, 71, viúva do militante morto, chegou a discutir com o general Oswaldo Pereira Gomes, responsável pelo pedido de adiamento.
O general foi abordado por Clara logo que saiu da reunião. Ela estava com Carlos Augusto Marighella, 48, filho do guerrilheiro, que mora em Salvador (BA).
"Eu lutei a vida inteira pela democracia e acho que o senhor tem todo o direito de se expressar. Mas quero dizer que nós lutamos muitos anos para que a verdade do caso Marighella fosse reconhecida. Desejo que, nos próximos dias, o senhor se dedique profundamente a esses estudos", afirmou Clara.
Aplaudida por familiares de mortos e desaparecidos durante o regime militar que compareceram à reunião para pressionar a aprovação dos pedidos de indenização, Clara disse que o voto favorável dos membros da comissão é uma questão de "justiça histórica".
Desde 1979, a viúva de Marighella se dedica à elaboração do dossiê que provaria que ele foi assassinado sem chances de defesa.
Segundo ela, todos os documentos que fazem parte do dossiê foram elaborados pelo próprio "aparato de repressão" da época.
"Acredito que o senhor, como homem que nas Forças Armadas defendia o direito e a legalidade, seja justo na análise desse dossiê e possa dar o voto a favor da história do nosso país", disse ao general.
O militar respondeu que vai procurar fazer justiça ao votar. "Já votei dezenas de vezes dando amparo às famílias. No meu voto, vou procurar fazer justiça, dentro dos limites da lei", disse.
Livros
Os Marighella querem que o nome do militante e de outros mortos e desaparecidos no regime militar sejam incluídos nos livros didáticos sobre a história do país.
"As gerações futuras precisam saber que muita gente morreu combatendo o regime militar. A história do país tem de ser reescrita", disse Clara Charf.
Ela afirmou que irá procurar o ministro Paulo Renato Souza (Educação) para sugerir que ele incentive as editoras a realizarem as alterações necessárias para corrigir as versões sobre o movimento militar de 1964. Ouvido pela Folha, o ministro disse que o governo "não tem ingerência sobre o conteúdo dos livros".

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