São Paulo, sexta-feira, 2 de agosto de 1996
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Colunista sobrevive a fim-de-semana do cão

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

O último fim-de-semana foi de lascar. No sábado, caí da cama com um canhoneio telefônico promovido por amigos que tinham acabado de saber da bomba em Atlanta. Parentes e curiosos, todos ligavam atrás de informações sobre colegas jornalistas, que estão nos EUA cobrindo a Olimpíada.
Só fui relaxar no final do dia, quando enfim se soube do paradeiro de todos os rapazes.
Não podia imaginar que no dia seguinte a tensão e a espera por notícias pudesse se repetir. Mas ao ligar a TV para ver o finalzinho da corrida da F-Indy, fui surpreendida pelo comentário do vencedor da prova, André Ribeiro, de que não havia muito a comemorar, uma vez que Emerson Fittipaldi corria risco de vida.
Quando as imagens do acidente finalmente foram reprisadas, eu gelei. A fração de segundo em que a cabeça de Emmo se inclina para o lado direito, momentos antes de ele ser retirado do cockpit, me remeteu automaticamente à manhã de 1º de maio de 1994, quando a mesma cena de um capacete, daquela feita amarelo, inclinado sobre a lateral do cockpit de um Williams, marcou de forma indelével a memória esportiva do país.
Conheço Emerson da vida toda. Afinal, a maioria dos fins-de-semana da minha infância foram passados em Interlagos, que meu pai e minha mãe, corredores de automóvel, tratavam como o Playcenter.
Lembro, ainda moleca, de ter ficado tiririca quando ele tomou uma vitória do meu pai, depois de apresentar queixa à direção da prova, só porque o velho correra de camisa Lacoste em vez de usar macacão.
Quando foi para a Europa, passei a acompanhar suas corridas pela Jovem Pan. E nem meu pai acreditou quando entrei na sala de radinho na mão informando que ele havia ganho seu primeiro GP, nos EUA.
Em 1973, Emmo se recusou a correr na Espanha, alegando falta de segurança. Durante o GP, a March de Rolf Stommelen decolou sobre as arquibancadas, matando várias pessoas. Depois disso, Emmo se tornou presidente do GPDA (Grand Prix Driver's Association), e nunca mais as equipes puderam colocar impunemente em risco a vida de pilotos.
Ninguém fez mais pela segurança do esporte do que ele, e seria muita fatalidade vê-lo sofrer um acidente grave justamente agora que acabou de virar avô. Se aposenta, Emerson!

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