São Paulo, sexta-feira, 2 de agosto de 1996
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BC vende até US$ 2 bi e segura o dólar

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Banco Central vendeu entre US$ 1,5 bilhão e US$ 2 bilhões das reservas internacionais nos últimos dois dias. Essas reservas são o caixa do país em moeda forte.
O objetivo foi conter um movimento especulativo com dólar e juros que, ontem, começou a refluir. O dólar fechou em queda.
Mas, segundo avaliam analistas ouvidos pela Folha, o movimento especulativo só ganhou expressão depois de dois erros operacionais do próprio BC.
São eles: reajustar em 0,2% (e não em 0,1% como era o costume) a faixa de flutuação do preço do dólar comercial no primeiro dia útil após a queda do ministro argentino Domingo Cavallo e, ao contrário do que os bancos esperavam, manter a TBC (Taxa do Banco Central) em 1,9%.
Nos últimos dois meses, o BC vinha sinalizando ao mercado, com várias medidas, a continuidade da política de queda gradual dos juros e a manutenção dos reajustes cambiais na faixa de 0,6% ao mês.
Esse cenário acabou induzindo bancos e empresas a alongarem os prazos de suas aplicações, prevendo juros anuais em queda.
Há 45 dias, os bancos trabalhavam com juros anuais na casa dos 25%. Na última segunda-feira, o mercado futuro projetava 18,5%. Ontem, fechou na faixa de 24%.
Clima de incerteza
Assim, avaliam os analistas, que preferiram que seus nomes não fossem mencionados, as duas atuações do BC quebraram as expectativas anteriores.
Até porque, segundo eles, já havia um clima de incerteza provocado tanto pela queda de Cavallo, o "pai" da paridade fixa entre dólar e peso argentino, como pelas projeções de novo déficit na balança comercial brasileira (importações maiores que exportações) em julho, que, anualizado, beira os US$ 7 bilhões.
Em resposta a essas incertezas, bancos e empresas procuraram "zerar" suas posições. Ou seja, quem estava "vendido" em juros (apostando na queda) foi obrigado a sair comprando. O mesmo aconteceu com quem estava vendido em dólar.
Para tranquilizar o mercado, o BC foi obrigado a, por intermédio de leilões, vender dólares. Na quarta, foram realizados cinco leilões -só quatro com êxito. Ontem, outros cinco.
A oferta de dólares no mercado subiu tanto que, no final do dia, negócios foram realizados abaixo do preço mínimo estabelecido pelo BC, que é de R$ 1,010.

LEIA MAIS sobre câmbio nas págs 2-3 e 2-8

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